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Falha em rede da Sabesp despeja esgoto de 10 mil moradores na represa Billings

Vazamento é em área de parque linear muito frequentado pela população da região. Cheiro ruim e falta de peixes evidenciam riscos. Segundo moradores, sistema falha 'desde sempre'.

Esgoto se acumula ao lado de trecho que serve para caminhada e ciclismo <span>(Rodrigo Gomes/RBA)</span>Parque linear do Residencial Lago Azul é frequentado por moradores de todo o Grajaú <span>(Rodrigo Gomes/RBA)</span>Esgoto vaza em vários Pontos de Visita, usados para manutenção da rede <span>(Rodrigo Gomes/RBA)</span>Pontos de Visita são principal local de vazamento do esgoto doméstico  <span>(Rodrigo Gomes/RBA)</span>Famílias de vários locais se reúnem na beira da Billings para curtir o fim de semana <span>(Rodrigo Gomes/RBA)</span>Pescadores afirmam que peixes sumiram da beira da represa por conta do vazamento <span>(Rodrigo Gomes/RBA)</span>Deck para atracamento de barcos é utilizado por jovens e crianças como ponto de mergulho <span>(Rodrigo Gomes/RBA)</span>Ponto de Visita nos fundos da estação elevatória da rua Juriti-do-Campo tem uma correnteza de esgoto <span>(Rodrigo Gomes/RBA)</span>Moradores afirmam que a estação elevatória no fim da rua Juriti-do-Campo tem problemas recorrentes <span>(Rodrigo Gomes/RBA)</span>Área do parque que ainda está em obras tem grande acúmulo de esgoto <span>(Rodrigo Gomes/RBA)</span>Estação elevatória Garças Prateadas, localizada na área que está em obras, também não funciona <span>(Rodrigo Gomes/RBA)</span>

São Paulo – Falhas em duas Estações Elevatórias de Esgoto da Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) estão deixando que o esgoto doméstico de cerca de 10 mil moradores do bairro Residencial Lago Azul seja despejado na represa Billings, na região do Grajaú, extremo sul da capital paulista. Além das estações, a RBA encontrou nove pontos de visita (PV), locais usados para manutenção da rede, onde há vazamento de esgoto.

De acordo com os moradores a tubulação de esgoto apresenta problemas com certa regularidade. “Esse esgoto vaza desde sempre. A Sabesp vem, arruma. Passa um tempo, está vazando de novo”, afirmou o pintor Francisco Alves Bezerra, que pescava com alguns amigos no último domingo. Segundo Bezerra, faz quatro meses que o vazamento está acontecendo, sem que apareça ninguém da empresa paulista por lá. “Nem peixe tem mais aqui na beirada. Tem dia que o fedor é terrível, é uma sujeira danada”, disse.

O sistema foi construído no processo de urbanização do bairro, iniciado em 2008 por meio da Operação Defesa das Águas, cujo objetivo é proteger, controlar e recuperar as áreas de interesse público, ambientais e de mananciais.

A operação foi criada em 2007, por meio de uma parceria entre governo estadual — secretarias do Meio Ambiente, Saneamento e Energia (Sabesp e Empresa Metropolitana de Água e Energia), Habitação e Segurança Pública — e da prefeitura — secretarias de Segurança Urbana, do Verde e Meio Ambiente, das Subprefeituras, da Habitação e do Governo — na gestão de Gilberto Kassab (PSD).

No Residencial Lago Azul, a ação consistiu na construção de rede de esgotos, pavimentação de ruas e calçadas, e na construção de um parque linear de aproximadamente dois quilômetros de extensão, por toda a orla da represa. É nesse parque que estão localizadas as estações elevatórias e os pontos de visita.

No fim da rua Juriti-do-Campo, o vazamento está acontecendo no fundo da estação elevatória, que deveria bombear o esgoto para que ele chegue à tubulação na parte alta do bairro e dali siga para seu destino. Os moradores afirmaram que equipes da Sabesp estiveram no local algumas vezes. Porém, poucos dias após a manutenção, o esgoto voltou a vazar.

A estação elevatória Garças Prateadas, instalada no fim da rua de mesmo nome, está localizada na área do parque que ainda está em obras. E o esgoto escorre pelo entulho. Os locais de vazamento atingem dois braços da Billings, que envolvem o Residencial Lago Azul, deixando as águas da orla turvas e com um forte cheiro azedo.

Além de pescadores, muitos moradores buscam a região para momentos de lazer. Inclusive famílias de outros bairros da região que trazem brinquedos, cadeiras de praia e até almoço. O local tem quadras poliesportivas, academias para idosos, pista de skate, parque infantil e até um deck flutuante que funciona como cais para os barcos de moradores das outras margens.

O torneiro mecânico Luciano da Silva Maciel explica que todo fim de semana o parque fica lotado e o pessoal da Associação de Moradores do Residencial Lago Azul orienta os frequentadores. “Ela avisa, chama atenção da molecada. Mas é muita gente e fica difícil controlar todo mundo. O parque é muito bom, mas o esgoto, desde sempre, foi um problema”, disse.

Maciel afirmou que a presidenta sempre chama a Sabesp quando as estações apresentam problemas. “Mas dá alguns dias e para de novo. Fizeram o parque dizendo que era para evitar a poluição da represa e agora está assim”, protestou, reafirmando o que disse o pescador. A RBA não conseguiu conversar com representantes da Associação de Moradores.

A auxiliar administrativa Telma dos Santos Chaves argumenta que o local é o parque do Ibirapuera da zona sul. “Sempre que faz sol a gente vem aqui se divertir. É um lugar muito bom e não tem muitas áreas de lazer por aqui. É o nosso ‘Ibira’”, afirmou. Telma explica que várias vezes já foi orientada a não entrar na água por conta dos vazamentos de esgoto. “O difícil é controlar os jovens”, afirmou.

A frase se explica rápido. É uma hora da tarde. Faz 30 graus. No deck, um grupo de crianças e jovens se diverte saltando da plataforma e nadando, indiferente aos avisos sobre a poluição das águas. Perguntado sobre os riscos, um adolescente que acabava de sair da água responde simplesmente: “Tem problema não, a gente nada sempre aqui”. E volta para a represa.

Procurada, a Sabesp informou que enviaria funcionários ao local para averiguar o problema.