Boiada

Advogado de Bolsonaro atuou para liberar madeira ilegal apreendida pela PF

Processo é o mesmo em que o ex-ministro Ricardo Salles é investigado por corrupção e facilitação de contrabando. Proam aponta tráfico de influência

Pedro França/Agência Senado
Pedro França/Agência Senado
"Você tem uma ascendência do crime organizado, do desmatamento e indícios de uma simpatia incompreensível do governo federal para com esse setor extração ilegal", critica o presidente do Proam

São Paulo – O advogado do presidente Jair Bolsonaro, Frederick Wassef conseguiu na Justiça liberar madeira apreendida pela Polícia Federal de uma das empresas acusadas de grilagem e extração ilegal de madeira. De acordo com informações do jornal Folha de S.Paulo, Wassef representa a MDP Transporte. A decisão em favor da empresa é de caráter provisório, mas permite restituir o material ilegal recolhido pela ação policial. 

A liminar é de dezembro, concedida pelo desembargador Ney Bello, do Tribunal Federal Regional da 1ª Região (TRF-1). O mesmo magistrado que já havia determinado a devolução das madeiras apreendidas de outras seis empresas também apontadas como suspeitas pela PF. Realizada no final de 2020, a operação Handroanthus GLO – nome científico do Ipê, a árvore cobiçada por organizações criminosas na Amazônia – apreendeu cerca de  226 mil metros cúbicos de madeira. Ou aproximadamente 43,7 mil toras extraídas ilegalmente. O montante teve valor estimado em quase R$ 130 milhões. 

À época, no entanto, os fazendeiros acusados acionaram o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, “para resolver o problema“. Desde então Salles passou atuar em defesa das empresas. Sua conduta motivou a queixa-crime apresentada em 14 de abril ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo ex-chefe da PF no Amazonas, Alexandre Saraiva. Ele levantou indícios de favorecimento às empresas na exportação ilegal de madeira. Pela denúncia, Alexandre Saraiva foi demitido da Polícia Federal. Enquanto o ex-ministro, apenas após rumores de que seria preso em Brasília, pediu a exoneração do cargo em junho de 2021. O qual deixou sob elogios do presidente da República. 

Tráfico de influência

O presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), Carlos Bocuhy, classificou o caso como anormal e a atuação de um advogado ligado à família Bolsonaro num caso como esse. Ou seja, há indícios de “tráfico de influencia”. Bocuhy lembra, em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, do Jornal Brasil Atual, que o governo Bolsonaro “está completo de atitudes que demonstram que ele joga pesado”. Desse modo, observa Bocuhy, há um avanço do governo colocando pessoas sob sua influência em posições chave no Legislativo de no Judiciário. Por exemplo, em cita o desembargador Ney Bello com cotado a uma vaga no Superior Tribunal de Justiça (STJ), que será definida em fevereiro pelo presidente. 

“Essa é uma situação que eu diria insólita. Porque o governo brasileiro deveria ter uma sintonia com a proteção ambiental, não só pelo seu devido ofício. Mas pelo perfil que o Brasil apresenta e pela situação em que o país está sob os olhos da imprensa internacional e de outros governos. E tudo isso acontece em um momento em que o Brasil tem o pior desmatamento em 10 anos. Além disso, você tem uma ascendência do crime organizado atuando no desmatamento. E indícios de uma simpatia incompreensível do governo federal para com esse setor da extração ilegal que também está na base do governo”, critica o presidente do Proam.

Recorde de desmatamento

Sob o governo Bolsonaro, o desmatamento na Amazônia em 2021 foi o pior em 10 anos. De acordo com dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), 10.362 quilômetros de mata nativa foram destruídos de janeiro a dezembro do ano passado. O total equivale à metade do estado de Sergipe. 

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Redação: Clara Assunção