No chão

Amazônia tem o pior desmatamento em um mês de março em seis anos

Geógrafo da USP critica ‘manutenção do desmatamento’ e alerta para negociações “a portas fechadas” entre governos dos EUA e do Brasil

Daniel Beltra/Greenpeace
Daniel Beltra/Greenpeace
"Esperamos com isso que o Biden desista da ideia de passar recursos (ao governo Bolsonaro), já que na verdade ele vai reafirmar uma liderança que está cada vez mais isolada", observa Wagner Ribeiro

São Paulo – A Amazônia teve o pior desmatamento em um mês de março em seis anos de monitoramento. Ao menos 367 quilômetros foram desmatados, segundo medições do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter). Foi a maior área devastada já registrada na série histórica que começou em 2015, de acordo com dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). Houve um aumento de 12% no desmatamento comparado a março de 2020, quando 329,9 quilômetros foram devastados. 

O aumento também foi 198% maior comparado a fevereiro deste ano. A alta nos índices de desmatamento coloca em alerta a região, principalmente com a chegada do período de seca, que se estende de maio a setembro. Na avaliação do professor do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental, Wagner Ribeiro, março é “emblemático” e pode sinalizar um desmatamento para os próximos meses “ainda pior do que tivemos em 2019 e 2020”. “O que seria de fato devastador para a Amazônia e os serviços ambientais que ela presta”, adverte em sua coluna na Rádio Brasil Atual

Pragmatismo estadunidense e desmatamento na Amazônia

Desde a chegada de Jair Bolsonaro ao poder, o desmatamento na região vem batendo recorde. Mas a devastação não acontece sem reação de organizações e movimentos ligados às questões ambientais.

Na semana passada, por exemplo, um grupo com mais de 200 ONGs enviou uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sobre eventuais negociações “a portas fechadas” entre ele e Bolsonaro a respeito da Amazônia, sem a inclusão das organizações.

A suspeita em relação às tratativas foi levantada por organizações da sociedade civil após convite do governo dos EUA ao presidente brasileiro para participar da Cúpula dos Líderes sobre o Clima, que será realizada virtualmente nos dias 22 e 23 de abril. 

A articulação também levou 23 chefes de Executivo estaduais a formarem a “Coalizão Governadores pelo Clima”. O bloco ainda é signatário de uma carta que será enviada a Biden pedindo que os estados tenham acesso aos recursos necessários de enfrentamento ao desmatamento diante do vácuo do governo federal.

Fracasso de Bolsonaro

Ribeiro explica que repassar novos recursos ao governo Bolsonaro seria financiar a continuidade do desmatamento. O geógrafo lembra que o Fundo Amazônia poderia auxiliar o Brasil, o que não vem ocorrendo porque a Noruega e a Alemanha congelaram os recursos devido à falta de proteção e apoio às comunidades originárias por parte da União. 

“É um cenário bastante preocupante porque o que está ocorrendo é a manutenção do desmatamento e a confirmação de que a operação Verde Brasil 2, comandada por militares desde maio do ano passado, tem um resultado muito ruim. O que é culpa de quem mandou os militares para lá, não é função deles fazer esse tipo de ação. Evidentemente não estavam preparados e não deram conta do recado. Este cenário deixa claro o fracasso da política de combate ao desmatamento de Bolsonaro. Esperamos com isso que o Biden desista da ideia de repassar recursos, já que na verdade ele vai reafirmar uma liderança cada vez mais isolada internacionalmente e no Brasil também”, analisa Ribeiro. 

Confira a entrevista 

Redação: Clara Assunção