EFeito estufa

COP 26: países fecham acordo para eliminar uso do carvão

Alguns dos principais consumidores do mineral, como Canadá e Polônia, assinaram o compromisso. Os dois maiores poluidores do mundo, China e EUA, no entanto, ficaram de fora

Climainfo/Reprodução
Climainfo/Reprodução
Professor da USP avalia como "absurda" posição de estímulo ao combustível fóssil do Brasil quando o mundo está indo direção contrária

São Paulo – Durante as negociações da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), em Glasgow, uma coalizão formada por 77 países se comprometeu a eliminar gradualmente o uso de energia à base de carvão. A queima do mineral é uma das fontes mais poluentes do mundo e ainda responde por 37% da produção mundial de energia, segundo dados de 2019. 

Alguns dos principais consumidores de carvão, como Canadá, Chile, Polônia, Vietnã e Ucrânia, estão entre as nações que assinaram o compromisso nesta quinta-feira (4). Mas, por outro lado, países também importantes e dependentes do carvão não assinaram a promessa. Entre eles, os dois maiores poluidores do mundo, China e Estados Unidos, assim como Austrália, Chile e Índia. 

O combustível fóssil é um importante fator no aumento das concentrações atmosféricas de CO2, o dióxido de carbono, que acelera o aquecimento global. Por isso a interrupção da queima do carvão é considerada urgente para frear o processo e garantir uma produção de energia mais limpa, priorizada no Acordo de Paris. 

Análise do acordo

Em entrevista ao Jornal Brasil Atual, o professor do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (USP), Wagner Ribeiro, lamentou as ausências dos países no acordo e a “morosidade” na decisão. “O tempo da política não é o mesmo da ciência, infelizmente”, destacou ao jornalista Glauco Faria. Ao analisar o compromisso, contudo, o geógrafo ressaltou a importância da adesão de países como Canadá e Polônia, que vinham de uma trajetória histórica de resistência à eliminação do carvão.

“Agora temos que usar essas adesões para pressionar grandes países emissores, especialmente EUA, China e Índia, porque daria uma outra roupagem. Estes são países que têm uma responsabilidade em termos de emissão de carvão bem maior comparada a outros do mundo. Enquanto eles não ingressarem, o cenário fica bastante difícil”, analisa. “Mas pouco a pouco estamos convocando novos países a ingressarem e isso me parece algo que tem que ser comemorado nesta conjuntura tão adversa que estamos assistindo hoje. Temos recessão econômica, um processo de pandemia ainda em curso e o recrudescimento dos casos na Europa. Todo esse cenário faz com que essa COP tenha uma peculiaridade singular.”

E o Brasil? 

Nas rodadas de negociações, o carvão tem sido um dos temas centrais da C0P26. O presidente da conferência, Alok Sharma declarou, por exemplo, que “está chegando o momento em que estaremos devolvendo o carvão aos livros de história”. O secretário-geral da ONU, António Guterres, também comentou que pediu o cancelamento dos atuais projetos globais de carvão, enfatizando o fim do que chamou como “vício mortal” em relação a esse mineral.

Em meio a este debate, porém, o Brasil tem ido na contramão, ficando também de fora do compromisso em zerar a queima de carvão. Embora seja pouco dependente do mineral em comparação a outras nações, em agosto deste ano, o governo de Jair Bolsonaro lançou um programa para seu uso sustentável, com o objetivo de atrair cerca de R$ 20 bilhões em investimentos no próximos 10 anos, segundo a proposta publicada no site do Ministério de Minas e Energia.

Na contramão

Isso significa que o Brasil, ao invés de trabalhar a substituição do carvão, continua poluindo, ainda quem em um nível mais reduzido, e comprometendo a imagem do país no exterior, conforme adverte o professor da USP. 

“É um absurdo essa medida de estímulo ao combustível fóssil quando o mundo está indo em direção contrária. É mais uma demonstração de que tudo que foi dito pelo ministro com essa mudança, ‘de que agora é outro ministro (do Meio Ambiente)’, isso tudo não é verdade, infelizmente. Esse conjunto de ações que nós temos aí, como o não combate ao desmatamento, contraria aquilo com que o Brasil se compromete no cenário internacional. Esse desacoplamento entre as políticas internas e as políticas internacionais, o que se diz lá fora e o que se faz aqui dentro, é muito ruim para imagem do país e rouba a nossa credibilidade”, critica.

Confira a entrevista 

Redação: Clara Assunção