Recuo de desmatamento na Amazônia surpreende ambientalista

Diretor de instituto aponta que recuo era esperado, mas não do tamanho anunciado pelo governo, e que Brasil ganha responsabilidade nas discussões da ONU sobre o clima

Operações de controle, como a Boi Pirata, que apreendeu gado criado em áreas de desmatamento e de ocupação ilegal, são fundamentais para manter a trajetória de queda dos índices de desmatamento (Foto: Ibama)

O índice mais baixo de desmatamento da história recente da Amazônia gerou entre ambientalistas um raro sentimento de satisfação. Evidentemente, várias organizações gostariam que a derrubada fosse zero, mas o recuo de 12.911 quilômetros quadrados entre 2007 e 2008 para 7 mil  km² de floresta entre agosto de 2008 e julho de 2009 é visto como um fundamental avanço.

O número do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) superou não apenas as expectativas do governo, que apostava em 9 mil km², mas as de André Lima, coordenador de Políticas Públicas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Além dos números gerais, a situação por estados também teve grande melhora. Em Mato Grosso e no Pará, tradicionais líderes do ranking de desmatamento, a queda foi respectivamente de 65% e de 35%. Ainda assim, os paraenses levam a liderança da lista, com 3.680 km², enorme diferença para Mato Grosso, com 1.047 km² , e Maranhão, com 980 km².

André Lima atribui a três fatores o recuo registrado este ano: reforço nas ações de controle ambiental iniciadas na gestão de Marina Silva no Ministério de Meio Ambiente; crise econômica global, com redução dos preços de carne bovina, soja e madeira; e reconhecimento do valor da floresta em pé.

“Há várias iniciativas neste sentido. A criação do Fundo Amazônia, que indica que teremos recursos para investir em conservação, os pactos setoriais da soja, da madeira, da pecuária, que demonstram que existe um reconhecimento da sociedade consumidora de que é preciso frear a compra do que vem de área de desmatamento”, afirma.

Dentro da lógica da floresta em pé há, ainda, outro fator tido como fundamental pelo Ipam: a Conferência da ONU sobre o Clima (COP-15), marcada para dezembro em Copenhague. Ministros e presidentes do mundo inteiro terão de definir se adotam ou não metas para redução das emissões de gases que geram o efeito estufa e se haverá algum tipo de estímulo econômico para que as florestas tropicais sejam mantidas em pé.

O governo federal, que ao que tudo indica não chegará à Dinamarca com meta para redução de suas emissões, aproveitou a divulgação dos dados nesta quinta-feira (11) para anunciar a criação de um plano em conjunto com o governo do Pará na tentativa de zerar o desmatamento causado pela pecuária. A ambiciosa promessa é de implantar em quase 20 mil propriedades rurais a Guia de Trânsito Animal (GTA) Eletrônica, que permitirá cruzar os dados de criação bovina com as áreas de desmatamento.

André Lima acredita que o aumento de papel dos estados é um dos pontos fundamentais para que os números do desmatamento continuem a cair. Para 2010, no entanto, dois fatores pesam negativamente e representam uma ameaça: o fim da crise e a pressão contra o controle ambiental em ano de eleições.

Por isso, a decisão de Copenhague fica ainda mais relevante. “Existe uma expectativa perante os líderes políticos e os setores econômicos de que o papel da floresta tropical seja reconhecido nas negociações. Com isso, aumenta a responsabilidade do Brasil na estratégia global de redução do aquecimento”, avalia o diretor do Ipam. 

Os números que o Brasil pode apresentar perante o mundo também melhoram com a divulgação da taxa anual. Nos cálculos do Ipam, o país deixou de emitir 1,18 bilhão de toneladas de gás nos últimos quatro anos com a redução do desmatamento. Para que se tenha uma ideia, o nível deste ano é quatro mil quilômetros quadrados menor que o recorde anterior, de 1991.