Brasileiro “Herói do clima” da Time atribui reconhecimento a equipe

Ao mesmo tempo, Márcio Santilli afirma à Rede Brasil Atual que decisão de dezembro em Copenhague é fundamental por ameaças crescentes em todo o mundo

A Time define Márcio Santilli como um homem humilde. Se a comprovação da hipótese depender da rápida entrevista concedida à Rede Brasil Atual, pode-se dizer que é verdade. O coordenador do Instituto Socioambiental (ISA) e ex-presidente da Funai atribui à equipe o reconhecimento recebido na última semana, quando foi escolhido pela revista estadunidense como um dos 38 heróis mundiais do clima.

Segundo a publicação estrangeira, o único brasileiro na lista foi escolhido por uma ideia que mudou o jogo: o oferecimento de compensação para os países em desenvolvimento que mantenham a floresta em pé. Como lembra a Time, no primeiro momento ninguém quis aceitar a proposta. De um lado, organizações não-governamentais considerando absurdo que multinacionais bancassem os países em desenvolvimento para que elas pudessem destruir. De outro, o governo brasileiro, que inicialmente resistiu à ideia, mas depois se tornou defensor.

Há alguns dias, Santilli foi surpreendido ao ser procurado pela Time avisando sobre sua escolha para a seleta lista. Agora, o coordenador do ISA afirma à Rede Brasil Atual que a seleção responde mais a uma lógica que tem a ver com o primeiro mundo e que o trabalho pelo qual foi reconhecido é de toda uma equipe. Nas palavras da revista, o homem que reluta em atribuir a si o crédito “sabe que o tempo está correndo e que soluções criativas são a chave”. Para Santilli, as soluções criativas precisam estar presentes em dezembro em Copenhague, quando haverá a Conferência da ONU sobre o Clima.

RBA – De alguma maneira surpreendeu essa seleção?

Fiquei bastante surpreso. Não sabia que havia sequer essa cogitação. Não é uma coisa que passa por candidaturas, por pleitos, de modo que foi uma surpresa.

RBA– Qual a importância para o senhor dessa escolha?

É um reconhecimento importante, algo feito de uma lógica que tem mais a ver com o primeiro mundo, que é aquela de procurar destacar pessoas, indivíduos que tenham uma atuação que possa ser considerada relevante, embora nosso trabalho aqui sempre tenha sido coletivo, um trabalho institucional, de modo que os méritos na verdade devem ser compartilhados entre muitas pessoas.

RBA– Como lhe ocorreu a ideia de que a floresta em pé valia mais que a derrubada e, mais importante ainda, como foi o convencimento de entidades e de governos?

A ideia de que a floresta em pé tem de valer mais não é obra minha. Várias instituições, inclusive do Brasil, já vinham dizendo isso mesmo no âmbito das negociações internacionais sobre clima. A contribuição que eu dei foi do enfoque, ou seja, de procurar um enfoque nacional a partir de taxas nacionais de desmatamento, e não de projetos pontuais que tivessem como objetivo a redução do desmatamento. Acho que essa abordagem permitiu superar objeções que havia a outras propostas, ideias anteriores que igualmente tinham objetivo de valorizar a floresta em pé.

RBA – Sobre Copenhague, o senhor acredita que a intenção de manter a floresta em pé vai sair vitoriosa?

Acho que há um consenso no sentido de que tem de haver compensação ou ainda, antes disso, o consenso de que os estoques de carbono presentes nas florestas tropicais do planeta precisam ser conservados e, para isso, é necessário que haja algum mecanismo compensatório, já que essas florestas se encontram sobretudo nos países em desenvolvimento.

No entanto, discute-se a forma de fazer isso. Há diferentes opiniões, diferentes posições e a minha expectativa é de que haja algum resultado que possa fazer a diferença porque os riscos que existem e as ameaças que existem sobre esses estoques são crescentes em todo o mundo.

Leia também

Últimas notícias