Em Copenhague, Brasil precisa propor reflorestamento, diz Goldemberg

Especialista na questão energética, professor entende que plantar árvores é única maneira eficaz de garantir captura de carbono

Para Goldemberg, compensação financeira para manter floresta em pé seria “bolsa-floresta” sem impacto (Foto: Diego Noguera/IISD.ca

O Brasil deve chegar a Copenhague no fim deste ano com planos ambiciosos para o reflorestamento da Amazônia. José Goldemberg, ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP) e colaborador de diversas gestões federais e estaduais na área energética, aponta que plantar árvores é o melhor método de captura de carbono.

Atualmente, o desmatamento representa ao menos a metade das emissões brasileiras de gases causadores do efeito estufa, fazendo com que o país novamente ganhe papel importante nas discussões da Conferência da ONU sobre o Clima, a ser realizada em dezembro na Dinamarca.

Durante o evento “Diálogos Capitais – Na rota de Copenhague”, promovido nesta terça-feira (13) em São Paulo pela revista Carta Capital e pela Envovlerde, Goldemberg defendeu que o Brasil adote definitivamente o reflorestamento como meta. Ele lembra que não há, no momento, outra maneira tão efetiva de compensar emissões de automóveis, da indústria etc.

No mercado internacional, é possível que os maiores emissores de gases “comprem” créditos de carbono das nações que conseguem um saldo de captura maior que a emissão. Com isso, países europeus, por exemplo, oferecem o equivalente a R$ 60 reais por tonelada de carbono. “Ou seja, quando a gente queima um hectare de floresta, está incinerando 100 toneladas de carbono, está jogando no mínimo US$ 1 mil na atmosfera. Com o agravante de que só joga fora uma vez”, afirmou.

Ele defendeu ainda que o governo Lula chegue a Copenhague com uma definição real de metas de redução de desmatamento, e não apenas uma intenção declaratória.

Sobre a ideia, que certamente será discutida na Dinamarca, de que os países com maiores florestas sejam remunerados para que a mata seja mantida em pé, por meio de um fundo global, Goldemberg é crítico. Ele entende que o projeto não passa de um “bolsa-floresta”, de filantropia, e defende que o plantio de árvores tem um impacto muito maior, inclusive com a geração de empregos.

Em sua exposição, o professor aproveitou para rebater as noções de que o incentivo ao etanol, ao gerar a expansão das lavouras de cana-de-açúcar, provoca desmatamento e avanço sobre áreas de produção de alimentos. Para Goldemberg, trata-se de desinformação. Em primeiro lugar, ele lembra que a produção em massa de cana está na região Sudeste, ou seja, muito distante das fronteiras amazônicas. Além disso, o ex-reitor da USP entende que o avanço das lavouras voltadas ao etanol ocorre sobre áreas de pastagem, as quais podem ser reduzidas sem prejudicar a produção de carne bovina.

O álcool combustível foi fortemente defendido como a melhor fonte de combustível existente neste momento. Como as reservas de petróleo podem acabar no próximo meio século, e quase 80% do abastecimento mundial depende de combustíveis fósseis, Goldemberg é enfático em relação aos biocombustíveis. Na opinião dele, trata-se de transformar energia solar em líquido, uma vez que até mesmo a energia necessária para o processo é retirada da cana – do bagaço, no caso.

A expectativa é de que a gradativa mecanização do corte gere um aumento na quantidade de bagaço, o que por sua vez possibilita um excedente de energia. Para o professor, só no estado de São Paulo há “uma Itaipu” esperando para ser utilizada. “Nada mais natural do que tentarmos repetir o que a natureza fez há cem milhões de anos, que é converter biomassa em produtos que sejam parecidos com o que nós usamos para movimentar automóveis e caminhões”, pondera.