Minc explica disputas e alianças entre ministros

Na terceira parte da entrevista, o ministro do Meio Ambiente critica ação de Mangabeira Unger e aponta aliança com sindicatos como chave

Minc defende elo com movimentos sindicais (Foto: Valter Campanato/ABr)

Apesar da instrução do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos ministros para que evitem bate-boca em público, Carlos Minc critica a postura de Mangabeira Unger, da Secretaria de Assuntos Estratégicos, na discussão sobre regularização fundiária. O processo resultou na Medida Provisória 458, publicada nesta sexta-feira (26) no Diário Oficial, após vetos pontuais.

“O ministro Mangabeira Unger queria virar o dono da regularização fundiária na Amazônia e dar uma cotovelada no ministro Cassel, no Incra etc.”, alfineta. Diante da situação, Minc buscou uma aliança com os ministros da Justiça, Tarso Genro, e do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, para equilibrar a disputa interna e impedir que prevalecesse o interesse empresarial que “ia jogar o pequeno agricultor para escanteio”.

Na terceira parte da entrevista concedida à Rede Brasil Atual, Minc fala ainda da relação que mantém com o movimento sindical e dos projetos relacionados à saúde do trabalhador que encampou como parlamentar. Ele elogia a ex-titular do cargo, Marina Silva que “caiu mais por seus acertos do que por seus erros”, na visão dele.

A primeira parte da entrevista, publicada na quarta-feira (24) é voltada ao debate da MP 458 e suas consequências. A segunda parte, no ar desde quinta-feira (25), faz um balanço da gestão e defende o processo de concessão de licenças ambientais de modo simultaneamente mais ágil e rigoroso.

Confira a última parte da entrevista.

Relação com outros Ministros

“O presidente Lula chamou dez ministros para discutir. Primeiro, o ministro Mangabeira Unger (Secretaria de Assuntos Estratégicos) queria virar o dono da regularização fundiária na Amazônia e dar uma cotovelada no ministro Cassel, no Incra etc. O Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) cometeu erros, mas, obviamente, quem tem a expertise para fazer regularização fundiária no Brasil é o Incra, além de alguns institutos estaduais de terra, que são poucos, e o Exército. Não vou fazer juízo de valor sobre o Mangabeira porque o presidente Lula me aconselhou fortemente a não comentar mais nada em público sobre os ministros. Eu não vou comentar, vou discutir sobre políticas”.

“O presidente Lula pediu e eu acatei, mas não como quem recebe uma reprimenda. Acho que ele tem razão. Não tem porque, num governo heterogêneo, que tem vários interesses políticos e vários interesses de classe representados, haver bate-boca público entre ministros. Temos que discutir internamente e o presidente Lula arbitrar, porque, afinal de contas, foi ele que montou o governo e que convidou as pessoas e as forças políticas”.

“Eu fiz uma grande aliança com o ministro Cassel e também com o ministro Tarso Genro, que é um grande aliado nessa questão do combate à violência. Eu consegui colocar na Medida Provisória que o presidente Lula mandou para o Congresso o artigo XV, de cláusulas resolutivas boas para o meio ambiente, que o Cassel e o Tarso apoiaram também. Esse triunvirato fez um pacto para impedir que a coisa fosse para um outro lado que seria mais empresarial e ia jogar o pequeno agricultor para escanteio”.

Aliança com os Trabalhadores / CUT

“No Rio, eu fiz, a pedido da CUT, as leis de restrição do amianto e de substituição do mercúrio na produção de cloro e soda. É minha a lei, também feita a pedido da CUT, que acaba com os jatos de areia nos estaleiros que provocavam silicose nos operários. Fiz também a lei, a pedido do Sindicato dos Bancários, filiado à CUT, de prevenção da Lesão por Esforço Repetitivo (LER), com dez minutos de intervalo para cada hora trabalhada. Eu sou um militante calibrado na luta de rua e na luta parlamentar, sempre articulado com os sindicatos. Várias das leis que eu fiz e lutei para cumprir foram leis pedidas pela classe trabalhadora para promover tecnologia limpa e diminuir a poluição que ferra com o pulmão do operário dentro da fábrica. Essa é a minha história”.

“Na minha atividade parlamentar, sempre tratei com saúde do trabalhador. O Rio de Janeiro é vanguarda em tecnologia limpa e saúde do trabalhador graças a várias leis que são todas de minha autoria. As fiz ouvindo sempre a CUT, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) etc. Em uma discussão com os metalúrgicos de Niterói nós paramos os estaleiros que trabalhavam com jatos de areia e provocaram silicose, doença também conhecida como pulmão de pedra, em 620 operários. Hoje, lá tem muito mais emprego e não tem silicose. Também lutamos para tirar o mercúrio da produção de cloro e soda, tirar o chumbo tetraetila da Refinaria de Manguinhos e assim sucessivamente. Foram lutas que fiz junto com os sindicatos”.

Marina Silva

“A senadora Marina Silva é minha grande amiga e companheira, a gente faz uma grande dobradinha. Considero que ela foi uma grande ministra do Meio Ambiente. Ela caiu mais por seus acertos do que por seus erros. Continuo me considerando um grande companheiro dela, a conheci quando era uma guria nos tempos dos empates do Chico Mendes no Acre”.

Balanço

“Embora eu me considere um bom administrador, não tenho muita experiência administrativa, pois fui secretário de Meio Ambiente no governo do Sérgio Cabral por um ano e meio e agora estou há um ano no ministério do Lula. Mas, após 20 anos como deputado, tenho muita experiência política. Estou na política desde guri, desde os 16 anos, com exílio, prisão, porrada, movimento social, CUT, ocupação de terra, greves, saúde do trabalhador”.

“Então, para resumir o balanço de um ano no ministério, podemos dizer que reduzimos o desmatamento da Amazônia em menos da metade e aumentamos em 60% os licenciamentos ambientais com qualidade”.