Recado ao mundo

Em Davos, Marina defende ‘sustentabilidade’ ambiental, econômica e social

“Vamos liderar pelo exemplo. Nós podemos falar muitas coisas legais, mas se a gente não reduzir o desmatamento, a gente apenas falou”, disse a ministra, no Fórum Econômico Mundial

Boris Baldinger/WEF
Boris Baldinger/WEF
“A gente às vezes pensa que já está fazendo porque a gente está falando, está concordando, e não está mudando nada”, alertou Marina

São Paulo – A ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva, defendeu, em Davos (Suíça), a necessidade de proteger o meio ambiente e reduzir as desigualdades sociais ao mesmo tempo. Além disso, instou governos e empresas a liderarem “pelo exemplo”, em busca do desenvolvimento sustentável. Ela participou do painel Em Harmonia com a Natureza, logo após a abertura do Fórum Econômico Mundial, nesta segunda-feira (16).

“O mundo é desigual. No meu país, tem 120 milhões de pessoas que estão passando fome. Nós tínhamos saído do Mapa da Fome, e agora temos 33 milhões de pessoas que estão vivendo com menos de um dólar por dia”, declarou. “A sustentabilidade não é só econômica, não é só ambiental, ela é também social, e é também política.”

Durante a discussão no primeiro dia do Fórum de Davos, Marina disse que é preciso falar menos e agir mais. Lembrou que a política é “muito rotativa”, o mesmo ocorrendo também nas empresas. Nesse sentido, afirmou que poder público e empresas devem promover ações concretas em prol do meio ambiente.

“A gente às vezes pensa que já está fazendo porque a gente está falando, porque a gente está concordando, e não está mudando nada”, afirmou. “Agora, eu já disse de novo: vamos liderar pelo exemplo. Nós podemos falar muitas coisas legais, mas se a gente não reduzir o desmatamento, a gente apenas falou.”

A guinada na política ambiental pelo governo Lula recoloca o Brasil no caminho da respeitabilidade internacional. Por outro lado, irrita os setores tradicionalmente inimigos da sustentabilidade. Segmentos do agronegócio, mineradores, garimpeiros, desmatadores, ocupantes ilegais de terras indígenas e áreas de preservação se acomodaram durante a era Bolsonaro. Tentaram financiar a compra de votos durante a eleição e, agora, estão entre os articuladores dos golpismo.

Constrangimento ético

Mais do que cobrados, os agentes públicos devem ser “constrangidos”, segundo ela, a tomar o rumo do desenvolvimento sustentável. Ela lembrou que, em 2004, criou o sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter). Na ocasião, a ministra foi questionada se tais dados não causariam constrangimento ao governo.

“Na época, muita gente não entendeu”, recordou. “E eu disse: quero ser constrangida, porque eu quero que o mundo todo saiba onde está acontecendo o desmatamento. E nós precisamos de constrangimento ético. Nós somos os maiores produtores de grãos, e o presidente Lula tem dito: nós vamos matar a fome dos brasileiros também”.

Entre 2003 e 2014, o desmatamento na Amazônia Legal – Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins – caiu 82%. Por outro lado, no governo Bolsonaro, desmatamento na Amazônia bateu recorde, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe).