Devastação

Com Bolsonaro, desmatamento na Amazônia bate recorde sobre recorde 

Em junho, a área detectada pelo Inpe chega 1.120 quilômetros quadrados, ultrapassando pela terceira vez consecutiva a marca de mil quilômetros quadrados no mês. Dados desmentem ministro do Meio Ambiente

Christian Braga / Greenpeace
Christian Braga / Greenpeace
O dado do Inpe representa alta de 130% em comparação a junho de 2018, último ano do governo de Michel Temer. Sob Bolsonaro, os alertas logo ultrapassaram mil quilomtros quadrados

São Paulo – O desmatamento na Amazônia bateu novo recorde para o mês de junho. É recorde sobre recorde desde que o governo Bolsonaro assumiu, em janeiro de 2019. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe) divulgados nesta sexta-feira (8) mostram que a área de alertas de desmate no mês chegou a 1.120 quilômetros quadrados. É a maior marca desde 2016, início da série histórica do sistema Deter-B.

O dado representa alta de 130% em comparação a junho de 2018, último ano do governo de Michel Temer. Sob Bolsonaro, os alertas logo ultrapassaram mil quilêmetros quadrados. Em junho de 2020, já eram 1.043; em 2021, chegou a 1.061 em 2021. Em 2022, bate em 1.120.

No acumulado do ano até o presente – o Inpe mede o desmatamento de agosto de um ano a julho do ano seguinte –, os alertas já chegam a 7.104 quilômetros quadrados. Perde apenas por pequena margem para os recordes do próprio regime Bolsonaro no mesmo período de 11 meses: 7.557 em 2020 e 7.282 em 2021.

Na série de 2022, que se encerra no fim deste mês, houve recorde de desmatamento em outubro, janeiro, fevereiro, abril e agora em junho.

Desproteção

Os dados do Inpe desmontam o argumento do ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite. O sucessor de Ricardo Salles afirmou em audiência na Câmara, na última quarta (6), que estaria ocorrendo queda do desmatamento em razão da operação Guardiões do Bioma Amazônia, lançada em março.

Porto Velho, em Rondônia, é o município com mais alertas de desmatamento em junho (2.450), seguido por Lábrea, no Amazonas (2.071), Apuí, também no Amazonas (1.910), São Félix do Xingu, no Pará (1.779), e Altamira, também no Pará (1.481).

A explosão do desmatamento no sul do estado do Amazonas, em municípios como Lábrea, se deve à grilagem na região, alavancada pelo projeto de pavimentação da BR-319 (Manaus- Porto Velho). A obra é projeto do ex-ministro da Infraestrutura e atual candidato ao governo paulista, Tarcício Freitas. A estrada corta uma das áreas mais intocadas da floresta Amazônica e estudos indicam que seu asfaltamento quadruplicará a devastação.

A área de proteção com maior número de alertas é a Área de Proteção Ambiental (APA) do Tapajós, no Pará, com 571 avisos, seguida pela Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre, com 411, e pela Floresta Nacional do Jamanxim, no Pará, com 262.

Espanto

De acordo com técnicos do Observatório do Clima, é preciso um olhar cauteloso sobre os alertas mensais de desmatamento. Isso porque o sistema Deter é ágil, mas seus satélites são “míopes”, sendo incapazes de enxergar pequenas áreas desmatadas. Ou seja, o Deter não tem a finalidade de medir a área desmatada, e sim orientar o trabalho do Ibama. Como é notório, o órgão tem sido desmontado durante o governo Bolsonaro. O dado oficial de desmatamento é informado pelo sistema Prodes, mais lento, porém acurado, uma vez por ano.

A partir dos dados de alertas disponíveis até o momento, é possível supor que a taxa de desmatamento na Amazônia em 2022 deverá ultrapassar novamente os 10 mil quilômetros quadrados. Em 2021, pela primeira vez desde o início das medições, em 1988, a Amazônia teve o quarto ano seguido de aumento na devastação. A esta altura, ainda não é possível descartar um quinto. Bolsonaro é o primeiro presidente desde a ditadura em cujo mandato o desmatamento terá sido sempre maior que no ano anterior.

“Espanto será se o desmatamento não subir de novo em 2022”, disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. “Como a tragédia do Vale do Javari deixou explícito para o mundo inteiro, a Amazônia está sob o comando de gente que mata e desmata, com o incentivo de Bolsonaro e seus generais. A destruição faz parte de um projeto de governo implementado com muito afinco, que o próximo Presidente da República terá muito trabalho para reverter.”