Vannuchi diz que oposição quer transformar responsável por fuga em herói
Analista político da Rádio Brasil Atual afirma que é preciso calma para tomar decisões nesse momento e que Dilma agiu corretamente ao propor que Patriota seja deslocado para representação na ONU
Publicado 28/08/2013 - 19h05
São Paulo – O analista político Paulo Vannuchi afirma que a oposição e a imprensa estão tentando transformar o diplomata Eduardo Saboia em um herói. Saboia foi responsável por auxiliar o senador boliviano Roger Pinto Molina, asilado na embaixada brasileira em La Paz, a fugir para o Brasil no último fim de semana. Ele alegou que foi movido pela defesa da vida, e que não suportava ver o boliviano asilado em uma situação semelhante ao DOI-Codi.
A situação criou um problema diplomático entre Brasil e Bolívia e resultou na queda do chanceler Antonio Patriota. Vannuchi afirma que o diplomata Eduardo Saboia falhou ao patrocinar a fuga em uma viagem de 22 horas até Corumbá (MS) em carro oficial da embaixada. “Saboia errou por tomar uma atitude perigosíssima, e a Dilma tem razão quando fala que nesses 1.600 quilômetros ele podia ter sido interceptado por um grupo qualquer, que pudesse, inclusive, matá-lo. O argumento de defesa da vida do senador asilado, oposicionista a Evo Morales, também cai por terra porque foi uma gravíssima exposição da vida desse opositor político que agora está no Brasil”, argumenta o ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
Roger Molina, ex-governador da província boliviana de Cobija, se envolveu em uma tentativa de golpe, em 2008, contra o governo de Evo Morales, é acusado de participação em um massacre de camponeses e de associação ao narcotráfico. Considerado uma ameaça, o opositor pediu asilo na embaixada brasileira, em La Paz, onde ficou por 18 meses.
Segundo as regras diplomáticas, o governo boliviano deveria conceder o salvo-conduto a Molina, permitindo que ele se deslocasse ao Brasil, mas, na visão da gestão de Evo Morales, esta não era uma obrigação porque o senador é visto como um criminoso comum, que deve se entregar para responder a dezenas de processos por corrupção.
Eduardo Saboia afirmou que conduziu a operação por questão humanitária, alegando que Molina estava deprimido após tanto tempo na embaixada do Brasil, comparada por ele ao DOI-Codi, órgão de repressão da ditadura, em declaração que motivou, ontem, a presidenta Dilma Rousseff a emitir uma resposta: “Estive no DOI-Codi, sei o que é o DOI-Codi. É tão distante a situação do DOI-Codi e da embaixada brasileira como é distante o céu e o inferno.”
O episódio culminou na saída de Antonio Patriota do Ministério das Relações Exteriores. Patriota agora assumirá o posto de representante brasileiro nas Nações Unidas, cargo que era ocupado por Luiz Alberto Figueiredo Machado. Machado tomou posse hoje (28) como novo ministro das Relações Exteriores.
“É um erro da diplomacia brasileira. O ministro Patriota assumiu isso. Nesse sentido, a responsabilidade é também da própria presidenta da república. Foram 18 meses que essa pessoa [o senador Molina] ficou lá, e claro que o governo podia ter feito uma pressão maior sobre a Bolívia, que não tinha direito de recusar o salvo-conduto, e também errou”, reforça Vannuchi.
Apesar disso, o analista político afirma que a presidenta deve agir com firmeza – como realizou a troca de cargos, retirando Patriota do ministério, e o afastamento do diplomata Eduardo Saboia –, mas sem atropelos. “Eu não recomendaria acelerar a carga para cima do diplomata responsável, porque ele errou e vai ser transformado em um herói da oposição. Aécio Neves já partiu para cima disso, como candidato presidencial”. Esta semana Saboia foi convocado a prestar esclarecimentos no Itamaraty, que abriu sindicância interna para apurar o episódio.
O senador Aécio Neves, presidente do PSDB e provável adversário de Dilma em 2014, considerou omissa a ação do governo em “não se empenhar para haver o salvo-conduto” e manifestou apoio ao diplomata Eduardo Saboia. “Historicamente, a prática do Itamaraty sempre se pautou no respeito aos direitos humanos, na defesa intransigente da liberdade, na obediência estrita ao estado democrático de direito. O PSDB manifesta seu irrestrito apoio à defesa da dignidade humana, ao respeito a valores universais do estado democrático e ao direito irrevogável de ir e vir reservado aos cidadãos de bem”, afirmou.