Redução de custos na aviação pode afetar a segurança dos voos, alertam sindicatos

Demissões no setor ocorrem por falta de planejamento, afirmam dirigentes sindicais

Demissões também podem afetar passageiros, que devem buscar seus direitos no Procon (Foto:Fotoarena/Folhapress)

São Paulo – A demissão de 86 pilotos e copilotos e 45 comissários esta semana pela Gol Linhas Aéreas indica problemas e instabilidade, avaliam sindicatos do setor. Gelson Dagmar Fochesato, presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), disse que a questão vai além das demissões. “As empresas do setor concorrem e se destroem entre si para apresentar menos custos aos passageiros, e crescem além de sua capacidade, até o ponto em que retrocedem. As consequências sobram para os trabalhadores.”

A Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil (Fentac/CUT) emitiu um comunicado afirmando que a Gol pretende transferir todos os despachantes técnicos do país para Congonhas e criar uma central de controle a partir do aeroporto paulista para efetuar, à distância, o balanceamento das suas aeronaves em todo o Brasil. Para a entidade, a “retirada desses profissionais dos aeroportos impedirá o balanceamento correto das aeronaves e ampliará as chances de acidentes nas pistas, colocando em risco a vida de passageiros e tripulantes”.

Procurada para falar sobre o assunto, a Gol informou que, para se adequar à nova realidade do mercado, fará uma redução diária entre 80 e 100 voos, de um total de 900 operados, o que inclui parte da malha da WebJet, comprada no ano passado. Segundo a empresa, a medida não afetará as necessidades operacionais do setor e será mantida a oferta prevista para 2012. 

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) disse que se “trata da política empresarial da companhia aérea” e a sua orientação é que os regulamentos pertinentes às normas de aviação civil continuem a ser seguidos pela companhia.

Fochesato cobra mais atenção do poder público. “Estamos aqui para defender os trabalhadores, mas é preciso existir uma política definida para o setor, apoio maior do governo e regulamentação, desde os preços estabelecidos pelas companhias aéreas até as ações decididas pelas empresas que afetam diretamente a estrutura. Da forma como as coisas vêm ocorrendo, temos uma instabilidade no setor e não sabemos o que será do futuro”, disse.

Sobre as demissões atuais, o presidente do SNA disse que a Gol previa um crescimento na demanda do transporte aéreo, o que não ocorreu em razão de seu “planejamento exagerado”, somado à redução de demanda e ao aumento de custos provocados pela crise financeira mundial e pelo preço mais alto do combustível. Fochesato afirmou ainda que a Anac não está preparada para resolver a situação. “A Anac não se preocupa com a empresa aérea, se preocupa com o passageiro. Mas quem deve agradar o passageiro é o Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor), garantindo o seu direito enquanto consumidor.”