Juros: depois da redução nos bancos, economistas defendem compulsório menor

São Paulo – O diretor do Centro de Estudos e Política Econômica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Ricardo Carneiro, afirmou hoje (18) que obteve sucesso a estratégia do governo […]

São Paulo – O diretor do Centro de Estudos e Política Econômica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Ricardo Carneiro, afirmou hoje (18) que obteve sucesso a estratégia do governo federal de forçar a diminuição das taxas de juros nos bancos públicos, pois levou os privados a seguirem o exemplo, antes que começassem a perder clientes. Algumas linhas de crédito chegaram a ser reduzidas em até 60%. “A estratégia do governo deu certo. As taxas ainda são altas, mas já é um bom começo”, disse Carneiro. Para ele, o impacto sentido pelo cliente final ainda é discreto, mas positivo.

As taxas na Caixa Econômica Federal caíram no dia 9. No Banco do Brasil, a medida valeu a partir do dia 12. Diante da concorrência, HSBC, no dia 12, Santander, ontem, e Itaú-Unibanco e Bradesco, hoje, também anunciaram a redução de suas taxas. Outras instituições devem fazer anúncios em breve.

Antes de os bancos reduzirem suas taxas de juros, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) chegou a reclamar com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, da alta carga tributária incidente sobre as movimentações financeiras, utilizando esse argumento para justificar o spread bancário (diferença entre os juros cobrados pelos bancos nos empréstimos a pessoas físicas e jurídicas e as taxas pagas pelos bancos aos investidores que colocam seu dinheiro em aplicações do banco). Mas o ministro não deu eco à reclamação e cobrou dos bancos a sua parte.

Para o economista da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) Marcos Machado, o Executivo deve cumprir seu papel para que as taxas de juros alcancem níveis razoáveis. “Praticamente dois terços do spread são de responsabilidade do próprio governo, pois somam os efeitos do depósito compulsório aos tributos incidentes nas operações financeiras”, disse. O compulsório nasce de uma determinação legal e obriga os bancos e outras instituições financeiras a depositarem, junto ao Banco Central, parte de suas captações em depósitos à vista, a prazo ou poupança.

Machado não acredita que forçar mudanças em bancos privados possa ser uma estratégia muito bem-sucedida do governo. “Tem um efeito, mas muito reduzido, até porque o alcance da medida não é extensivo a todos as linhas de financiamentos ou empréstimos dos bancos”, disse. Para ele, a margem de lucro dos bancos com a cobrança de juros é de 30%.

Carneiro considera alto o depósito compulsório no Brasil se comparado a outros países e sugere que diminuí-lo em linhas específicas de crédito poderia ter eficácia. “Quando se reduz o compulsório e a margem dos bancos, é possível ter uma taxa razoável dentro de um certo período. Também é preciso a taxa Selic (taxa básica de juros, em 9% ao ano a partir de amanhã), que é o pontapé inicial”, defendeu.

Resultados imediatos

O Banco do Brasil anunciou hoje ter registrado em quatro dias de vigência das novas taxas 45% de aumento no volume médio das linhas de crédito pessoal, com desembolso diário de R$ 278 milhões. O crédito para aquisição de veículos cresceu 93%, com média diária de R$ 21,3 milhões. 

A Caixa anunciou ontem (17) que a concessão de crédito para pessoa física somou R$ 518 milhões em uma semana, o que representa aumento de 17% em relação à semana imediatamente anterior.

A redução dos juros nas instituições bancárias também é uma resposta a um apelo da presidenta Dilma Rousseff que, no dia 3 deste mês, ao anunciar incentivos à indústria nacional, defendeu a diminuição do spread como recurso para facilitar o acesso de empresas ao crédito no país. Para ela, é “tecnicamente difícil” explicar a taxa e é necessária uma “discussão” sobre o tema.

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