Para Rigoberta Menchú, Belo Monte mostra que índios no Brasil são ‘silenciados’

Ativista de direitos humanos da Guatemala, prêmio Nobel da Paz em 1992, defende consulta popular a respeito de grandes obras como mais importante do que compensação socioambiental

Ativista acredita que grandes empreendimentos poderiam ser bons para comunidades locais, mas em geral recursos são extraídos para o exterior (Foto: Divulgação Fundação Rigoberta Menchú)

São Paulo – De origem indígena, a prêmio Nobel da Paz de 1992, a guatemalteca Rigoberta Menchú, criticou o Estado brasileiro por demorar a aplicar a sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos. A decisão, emitida em dezembro de 2010, estabelece a suspensão das obras da usina de Belo Monte, localizada no rio Xingu, no Pará. Para Rigoberta, o Brasil é a nação “mais conservadora” em relação a conceder direitos à população indígena.

“No Brasil, os povos indígenas são os mais marginalizados da sociedade e o país se opõe às soluções debatidas no âmbito internacional”, criticou Rigoberta Menchú, em entrevista a Gabriel Bonis, do site da CartaCapital. “Conheço a realidade de comunidades de índios brasileiros e são os mais silenciados do planeta”, afirmou. Comparando a outros países, ela acredita que o país ficou para trás.

“Não se levam em conta as necessidades da população local, as tensões envolvidas no processo e não se abordam os problemas indígenas no Brasil”, disse. “Além disso, desviam o foco dos problemas verdadeiros, pois esta não é uma responsabilidade da OEA e sim do Estado brasileiro, que não se responsabiliza. Não se pode deixar esse problema para outros países.”

Para Rigoberta, mais importante do que ações para compensar eventuais impactos socioambientais é a consulta à opinião popular em grandes obras de infraestrutura. “Não há nenhuma garantia de que a população se oponha a essas construções, mas os governos não podem mais fazer obras que não harmonizem em primeiro lugar os interesses da população.”

Ela lembrou a necessidade de consulta prévia a populações no âmbito de organismos internacionais, como a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em casos de exploração de recursos e bens naturais de terras indígenas. “Em geral, esses empreendimentos (como a usina de Belo Monte) poderiam ser bons para as comunidades locais caso estas fossem beneficiadas, mas na maioria das vezes as riquezas são extraídas para o exterior.”

A ativista deve vir ao Brasil neste mês, para participar do 2º Fórum Global de Sustentabilidade do festival de música SWU, em Paulínia (SP), no dia 12.

Com informações de CartaCapital