Criticado por falta de diálogo, Exército estava ausente de áreas do Alemão

Deputado vê modelo 'inconsistente' que precisa ser revisto. Presença do Exército volta a ser questionada

Soldados do Exército circulam por ruas do Complexo do Alemão, no Rio (Foto: Wladimir Platonow/ABr)

São Paulo – A presença do Exército no Complexo do Alemão, na zona norte da capital fluminense, foi colocada em xeque após confrontos entre policiais e traficantes na noite de terça-feira (6). De um lado, moradores reclamam da falta de diálogo com a comunidade, que ainda não recebeu os efeitos da presença de Estado para além do aspecto de segurança. De outro, os militares deixaram de ocupar algumas áreas da região, o que pode ter favorecido o fortalecimento de células do crime organizado na região.

O Complexo do Alemão foi palco de uma megaoperação da polícia militar do Rio de Janeiro em novembro de 2010. Para assegurar o funcionamento da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) – modelo de intervenção em favelas depois de debelado o controle do crime organizado, aplicado a 17 comunidades desde 2008 –, o governo do estado passou a contar com apoio do Exército. Apesar de haver críticas pontuais ao fato de os militares não terem treinamento adequado para policiamento ostensivo e ação nas ruas, a medida é considera necessária pela Secretaria de Segurança.

Para o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ), os episódios desta semana indicam um “modelo inconsistente” de ocupação militar que precisa ser revisto. “Após aquele alívio inicial do poder despótico do tráfico, que de toda forma tem uma inserção na comunidade muito grande, a chamada ‘libertação’ não se efetivou”, criticou, em entrevista ao Terra Magazine. “Ficou um clima de medo, de opressão, de abafamento, sem uma relação permanente, democrática, para avaliar como está sendo aquela ocupação. Não houve um canal democrático de diálogo.”

Em visita da Comissão Permanente de Segurança Pública da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) nesta sexta-feira (9), algumas ruas do bairro foram visitadas. Segundo o deputado Zaqueu Teixeira (PT), presidente da comissão, os moradores reclamam que os morros do Adeus e da Baiana foram excluídos do acordo firmado entre o governo do estado e o Exército. O percurso foi acompanhado por representantes da Força de Pacificação.

Apesar de serem relativamente pequenas dentro do complexo, Zaqueu considera que a exclusão preocupa porque cria pontos vulneráveis. “Se quisermos a pacificação, não podemos permitir que haja flancos e que traficantes se aproveitem desses flancos e coloquem em xeque um programa que a sociedade está aplaudindo, mas que a comunidade desconfia em razão de ser algo novo”, disse o deputado estadual.

Apesar das incertezas erguidas pelos confrontos, a vida no bairro está relativamente tranquila, segundo os deputados estaduais. O movimento das ruas era normal, com comércio aberto, caminhões de entrega circulando para abastecer lojas etc. Ainda prosseguiam revistas de bolsas e de automóveis nos principais acessos das comunidades do complexo.

Apesar de ser bem vista pela população, as UPPs sofrem críticas por não terem ainda sido capazes de ir além de políticas de segurança. Questões como acesso à energia elétrica, serviços de saúde e educação ainda não foram superadas. “Enquanto faltar gás, luz, faltar o básico aqui, o tráfico vai aproveitar e ganhar dinheiro com o povo”, disse uma moradora que não se identificou à Agência Brasil.

Confiança

O general Adriano Pereira Júnior, chefe do Comando Militar do Leste, afirmou, na quinta-feira (8), que o principal desafio para manter o trablho realizado pelo Exército é reconquistar a confiança dos moradores. Segundo ele, desde novembro, foram 4 mil abordagens sem registro de morets. “Isso também vai ajudar com que os moradores confiem mais na gente”, disse.

O Ministério Público Federal prometeu investigar a ação do Exército no Alemão. No domingo, soldados foram acusados de excessos em revistas no domingo (4). Episódios semelhantes haviam sido registrados em julho, na Vila Cruzeiro, também na zona norte. Quatro militares foram afastados depois do caso.

O Comando Militar do Leste divulgou a informação de que os padrões para revista de “suspeitos” no Complexo do Alemão seriam revistos. Apesar dos incidentes, o principal motivo da mudança seria a avaliação de que o crime organizado estaria usando mulheres para transportar drogas e armas para evitar perfis comumente abordados pela Força Pacificadora.

Com informações da Agência Brasil