Para deputado Jean Wyllys, ao assumir preconceito contra gays, Bolsonaro piora a própria situação
São Paulo – Ao tentar escapar da punição de um crime da prática de racismo ao assumir o preconceito contra homossexuais, Jair Bolsonaro (PP-RJ) complica-se mais ainda, na visão do […]
Publicado 30/03/2011 - 17h23
São Paulo – Ao tentar escapar da punição de um crime da prática de racismo ao assumir o preconceito contra homossexuais, Jair Bolsonaro (PP-RJ) complica-se mais ainda, na visão do deputado federal de Jean Wyllys (PSOL-RJ). Wyllys é um dos autores de uma representação contra Bolsonado pelo teor de uma entrevista veiculada na segunda-feira (28).
Ele acredita que Bolsonaro usa a homofobia para fugir de condenação legal e, por ser deputado, poderia ser processado por quebra de decoro parlamentar. No código penal, a prática de racismo é considerada crime inafiançável desde junho de 1989, enquanto a homofobia ainda não recebe esse tratamento. Um projeto de lei encontra-se em tramitação no Congresso.
“Como se vê, Bolsonaro praticou o crime de racismo, mas como ele sabe que é crime, ele tem tentado convencer a opinião píública e está assumindo a questão homofóbica”, declarou Jean Wyllys, em entrevista à Rede Brasil Atual.
No programa CQC, da TV Bandeirantes, Bolsonaro respondeu a uma série de perguntas sobre ditadura militar e preconceito contra gays e negros, com direito a manifestações apontadas como racistas e homofóbicas, associando a cor da pele à ideia de promiscuidade. Em nota à imprensa na terça-feira (29), ele alegou ter entendido erradamente o questionamento.
Ainda na terça, a Comissão de Direitos Humanos da Casa pediu que o caso seja investigado. Bolsonaro foi à tribuna se defender, dizendo que se confundiu e achou que a pergunta se referia a homossexuais. “Ele deu essa desculpa esfarrapada e sem credibilidade”, critica o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ)
Nesta quarta-feira (30), uma representação assinada por 20 deputados de diferentes partidos – PCdoB, PDT, PSOL e PT – foi protocolada na Mesa Diretora da Câmara pedindo que a Corregedoria da Casa investigue Bolsonaro por comentários racistas. O mesmo grupo de deputados encaminhará ao Ministério Público Federal (MPF) para que ele seja responsabilizado pelo crime de racismo.
“Ele é um hipócrita. Fala em defesa da família, mas se esquece que as pessoas a quem ele ofende – todas – têm família. E imagine uma mãe ouvindo falarem isso de um filho “, indigna-se Wyllys. O parlamentar explica que iniciou a articulação ao conversar com deputados ligados ao movimento negro que também sentiram-se ofendidos, Luiz Alberto (PT-BA) e Edson Santos (PT-RJ). Outros aderiram à representação durante a terça.
Punições
Para o deputado Chico Alencar, a reincidência de Jair Bolsonaro com declarações polêmicas ultrapassou limites envolvendo posições preconceituosas. Alencar acredita que, desta vez, com a indignação popular generalizada, a questão não ficará sem consequências. “A desculpa da liberdade de expressão é completamente inaceitável neste caso”, ataca Chico Alencar.
“O histórico do Bolsonaro todo mundo já conhece. A gente decidiu fazer essa representação porque ele sempre praticou esse tipo de abuso e ninguém nunca representou contra ele. Talvez porque não houvesse aqui um homossexual assumido”, declarou Jean Willys, em referência à própria orientação sexual.
PL 122
Jean Willys vê no episódio envolvendo Bolsonaro a necessidade de discutir profundamente a questão de considerar crime a prática de homofobia. A discussão do projeto de lei 122 de 2006 vinha ocorrendo no Congresso e mostra-se cada vez mais necessária. O texto, que propõe a criminalização da homofobia, foi aprovado na Câmara em 2006, mas até hoje não foi analisado pelos senadores.
Chico Alencar acredita que, inadvertidamente, Bolsonaro reforçou a urgência de se ter mais rigor contra manifestações homofóbicas “por que há evidentemente um crescimento das agressões contra os gays”, explica o deputado.
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