nesta quarta

Organizações sociais denunciam Brasil à OEA por tragédia no Rio Doce

Denúncia, que critica o modelo do contrato de reparação de danos, será apresentada por 15 organizações durante audiência nos Estados Unidos. Episódio é o maior desastre ambiental do país

Corpo de Bombeiros de Minas Gerais

Será denunciada criação de fundação da mineradora para negociar indenizações

São Paulo – O Brasil terá de responder à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), principal canal de monitoramento de violações de direitos no continente, por que tem falhado em proteger populações atingidas pela indústria de mineração, sobretudo as 3,2 milhões de pessoas afetadas direta e indiretamente pelo rompimento de uma barragem das empresas Samarco, Vale e BHP Billiton na cidade mineira de Mariana. O episódio, ocorrido em 5 de novembro de 2015, é considerado o maior desastre socioambiental da história do país.

A denúncia será apresentada por representantes de 15 organizações da sociedade civil durante audiência temática amanhã (8), a partir das 13h, em Washington, nos Estados Unidos. As entidades elencaram 14 casos, incluindo o da barragem da Samarco, em que há registros de graves violações de direitos humanos provocadas pela atividade mineradora. Entre eles, está o projeto de expansão do Complexo Carajás, da Vale, que atinge 22 cidades no Pará e no Maranhão, e o projeto Minas-Rio, no município mineiro de Conceição do Mato Dentro, idealizado pela empresa MMX e adquirido pela gigante Anglo American.

As organizações denunciarão o modelo do acordo de reparação de danos no caso da barragem de Mariana, firmado entre as empresas, o governo federal e os governos de Minas Gerais e do Espírito Santo, assim como a falta de participação dos atingidos na elaboração do documento. O acordo foi ratificado no final de maio e o novo ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, indicou que irá revisar alguns de seus termos.

Um dos pontos mais polêmicos do acordo é a criação de uma fundação privada, formada por especialistas indicados pela mineradora, que ficará responsável por propor e negociar os valores de indenização com os atingidos. E ainda prevê que os descontentes com o valor da indenização podem solicitar que a fundação – gerida pela própria mineradora – custeie seus advogados. O processo é considerado pelas entidades como uma violação às garantias do devido processo legal.

Relatos mostram repetidas violações de direitos à moradia, ao trabalho digno, à integridade cultural, à vida, ao território e à consulta de populações indígenas da região. Apontam ainda que os incentivos fiscais à indústria mineradora, o sucateamento dos órgãos de fiscalização e as oscilações do mercado internacional tiveram impacto negativo na proteção das populações que convivem com a exploração mineradora.