Proposta dos Correios inclui aumento real maior a quem ganha menos, diz Dieese

De acordo com análise de economista, índices variam de 0,58% a 9,27%

São Paulo – O aumento de R$ 80 a todos os trabalhadores incluído na proposta dos Correios traz “aumento real expressivo” para a maior parte dos trabalhadores da empresa, segundo análise do economista Clóvis Scherer, supervisor do escritório regional do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no Distrito Federal. Para o menor salário, já considerado o reajuste de 6,87% que integra a proposta, aquele valor corresponderia a aumento real (acima da inflação) de 9,27%. No topo da tabela, o índice seria de 0,58%, enquanto para cargos de nível médio ficaria em pelo menos 1,3%. 

Outros dois itens da proposta, o vale-alimentação (R$ 25) e o vale-cesta (R$ 140) teriam reajustes de 8,7% e 7,7%, respectivamente. Na análise do Dieese, isso mostra ganhos significativos acima da inflação, proporcionando ganhos indiretos “substanciais”, favorecendo principalmente os trabalhadores de menor salário. Para o economista, a antecipação do aumento real de janeiro para outubro de certa forma compensa o não pagamento do abono de R$ 500 previstos na proposta inicial. A vantagem, no caso, está no fato de o aumento real ser incorporado ao salário, com repercussões na contribuição previdenciária (para quem recolhe abaixo do teto), no fundo de pensão e no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

O Dieese, no entanto, ressalta que a análise não significa uma “avaliação global e exaustiva” das propostas em negociação, mas apenas de elementos oferecidos para subsidiar a decisão da categoria.

Segundo o relatório da administração dos Correios, a receita de vendas da ECT atingiu R$ 12,687 bilhões em 2010, elevação de 10,5% em relação ao ano anterior. O lucro líquido saltou de R$ 118 milhões, em 2009, para R$ 827 milhões. Em 2009, a empresa realizou um programa de desligamento voluntário (PDV), fazendo com que o número de trabalhadores caísse de 112.329 para 108.615. No ano passado, a companhia fechou com 107.992. Agora, segundo a ECT, esse número está em 110 mil, com aproximadamente 6 mil contratações em processo após realização de curso, reivindicado há tempos pelos sindicalistas.

Com 15 anos de ECT, o secretário-geral da Fentect, José Rivaldo da Silva, disse que, no caso dele (salário de R$ 1.070), os R$ 80 representariam aumento real de 7,5%. Um dos empecilhos para o acordo, afirma, foi o rompimento de uma “cultura” da ECT de não descontar os dias parados. “No processo de greve, houve um endurecimento por parte da direção da empresa.”