mundo contemporâneo

Professores da Faap fazem palestra gratuita sobre servidão voluntária no trabalho

'Os sujeitos se eximem de exercer todo e qualquer pensamento crítico em troca de pertencer a uma firma, a uma empresa, de fazer parte do staff', afirma psicanalista que analisará o tema no sábado (11)

Claudio César Montoto / Arquivo Pessoal

Montoto: sentimento de pertencimento é a recompensa que o profissional obtém quando se torna reconhecido

São Paulo – Nas relações de trabalho no mundo contemporâneo é importante o profissional ter uma prática que o torne integrado à equipe e aos objetivos da empresa. Essa é uma perspectiva da qual ninguém discorda. No entanto, há empresas que exageram na dose de valores e padrões de comportamento que passam a seus funcionários, até mesmo sufocando individualidades e exigindo de seu time uma postura cega, que muitas vezes é atenuada pelo clichê de que é preciso “vestir a camisa”.

“Os sujeitos se eximem de exercer todo e qualquer pensamento crítico em troca de pertencer a uma firma, a uma empresa, de fazer parte do staff de uma agência”, afirma o psicanalista e professor da Faap Claudio César Montoto, que no sábado (11) analisa e debate ao lado da professora Thatiana Cappellano, também da Faap, o tema “A Servidão Voluntária no Mundo do Trabalho”, na Livraria da Vila (endereço abaixo).

O eixo da discussão vai ser explorar e colocar em evidência o preço que muitas vezes a pessoa paga para conquistar um lugar ao sol e que em algum momento depois pode estar na base de uma angústia, ansiedade ou até mesmo depressão. “Para se sentir integrado e reconhecido, o indivíduo renuncia voluntariamente a aparecer como sujeito do desejo, colocando limites, e se dispõe voluntariamente em posição de servidão para poder sentir que está criando uma subjetividade”, afirma Montoto, fazendo referência ao fato de que muitas vezes a pessoa entrega a própria identidade em troca daquilo que a empresa espera dela.

Essa troca, segundo Montoto, se traduz no sentimento de pertencimento que o profissional obtém quando se torna reconhecido dentro da equipe. “Sustentam-se, primordialmente, com o imaginário de pertencer. Se sobrar algo do tempo e de libido, pensam em alguma outra coisa; além do happy hour que não pode faltar, porque aí também se tomam decisões importantes para o trabalho”, afirma.

“É por isso que ser um freelancer ou um desempregado significa não se sentir existindo, não ter subjetividade, desaparecer como sujeito”, afirma o psicanalista. Para ele, o papel preponderante das empresas na produção de identidades (que ele chama de “subjetividades”) é um sinal dos tempos. Em outras épocas, essa produção era dada por diferentes grupos. “Antes era o discurso religioso, o discurso científico, a família. Hoje o mundo corporativo é o maio produtor de subjetividades”, analisa.

O problema da “servidão voluntária” é uma questão que abarca o pensamento dos filósofos, poetas e escritores há tempos. Um livro clássico sobre o tema é Discurso da Servidão Voluntária, do francês Etienne de La Boétie (1530-1563). No texto, o escritor e poeta de época do Renascimento afirma que “é a liberdade, todavia um bem tão grande e tão aprazível que, uma vez perdido, todos os males seguem de enfiada; e os próprios bens que ficam depois dela perdem inteiramente seu gosto e sabor, corrompidos pela servidão”.

Serviço
Palestra dos professores Claudio César Montoto e Thatiana Cappellano
Tema: A Servidão Voluntária no Mundo do Trabalho
Quando: sábado (11), das 11h às 13h, com entrada franca
Onde: Livraria da Vila, rua Fradique Coutinho, 915, Vila Madalena

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