Queda de laje em São Paulo coloca em xeque fiscalização de obras públicas

Presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil vê falha e inexperiência de engenheiros

Queda de laje de prédio público em obras pode ter sido causada por erros de engenharia e falta de fiscalização (Foto: Robson Ventura/Folhapress)

São Paulo – O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de São Paulo (Sintracon-SP), Antonio de Sousa Ramalho, criticou nesta sexta-feira (13) o que ele considera falhas de engenharia que causaram a queda da laje de um prédio em construção na Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte da capital paulista. O acidente aconteceu na tarde de quinta-feira (12). A obra é de responsabilidade da Ubiratan Construtora. Para ele, intervenções públicas não recebem a fiscalização necessária.

“Sabemos como funciona o estado, as obras públicas. Infelizmente, as pessoas que fiscalizam isso são em sua maioria cargos de confiança, que não são de tanta confiança assim, o cara está lá só para estar empregado mesmo”, criticou o sindicalista.

O estado de São Paulo possuía uma delegacia especializada em acidentes de trabalho, criada na década de 1990 pelo ex-governador Mário Covas. O órgão especializado foi extinto pelo atual titular do cargo, Geraldo Alckmin, em novembro de 2011. A Secretaria de Segurança Pública alegou pouca demanda e otimização dos recursos humanos e materiais. Casos como este são investigados pelos 93 distritos policiais da Capital, evitando grandes deslocamentos por parte das vítimas.No caso do desabamento da laje, o caso ficará no 72º DP, na Vila Penteado.

A prefeitura de São Paulo divulgou, ainda nesta sexta, a contratação do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) para produzir um laudo sobre o incidente. A construção, quando finalizada, abrigaria uma unidade da Fábrica de Cultura – projeto da Secretaria de Cultura dedicado à formação e à difusão cultural em áreas afastadas.

De acordo com a Secretaria Estadual de Cultura, “o contrato assinado entre a secretaria e a empreiteira estipula que a responsabilidade pela segurança da obra é da empresa”. Ainda foi informado que cerca de 60 trabalhadores estavam no local.

Ramalho ainda criticou a inexperiência de engenheiros, que segundo ele, foram responsáveis pelo acidente que deixou 11 feridos e um morto, Nivaldo Rodrigues da Silva. “Imagino que a perícia vai detectar que por ser uma laje inclinada – exerce pressão três vezes superior a uma laje reta, comum –, havia a necessidade de se ter escoramento extra e vigas de reforço. Pelo que sei não tinha nada disso”, acusou.

Para o sindicalista, casos assim sugerem falta de experiência dos profissionais responsáveis pelo planejamento, ou economia de recursos ou pressa. “Houve um erro de cálculo, não tenho dúvida”, aposta.

A família do trabalhador morto poderá entrar com pedido de indenização por danos e receber judicialmente uma quantia de R$ 700 mil de indenização, segundo Ramalho. “O sindicato colocou o seu departamento jurídico à disposição da família do trabalhador que morreu e daqueles que ficaram com sequelas do acidente” informou. Segundo o sindicato, dos 11 feridos no acidente, quatro tiveram traumatismo craniano.

A nota da secretaria ainda cobra providências imediatas da empresa. “O secretário (Andrea Matarazzo) determinou ainda que a empreiteira dê total atendimento aos feridos e preste amparo à família de Nivaldo.”

Ubiratan

Respondendo a um processo penal por falta de segurança em obras anteriores, a Ubiratan Construtora também é a responsável pelas obras da Fábrica de Cultura no bairro Cidade Tiradentes, na zona leste da capital paulista, paralisada após o desastre de quinta. “Das empresas que prestam serviços em obras públicas, 95% estão na mesma condição de ‘faz de conta’. Nesse caso, Vamos ter de manter pressão em todas as outras obras deles”, alertou o sindicalista.

Ramalho sustenta que a construtora teria 351 funcionários registrados na cidade, mas o número de trabalhadores envolvidos nas obras chegariam a 5 mil, entre terceirizados e contratações suspeitas de irregularidades.