Para bancários, Banco Central atua como sindicato das instituições financeiras

Audiência discutiu projeto do deputado Ricardo Berzoini, que suspende as resoluções feitas pelo BC sobre correspondentes bancários

São Paulo – O Banco Central atua como sindicato das instituições financeiras, na visão dos bancários. A afirmação veio durante audiência pública na última terça-feira (16) com representantes da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) e do Banco Central, na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados. A reunião foi convocada para a discussão do Projeto de Decreto Legislativo (PDC) nº 214/2011, do deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP), que suspende resoluções do BC sobre ampliação dos serviços oferecidos pelos correspondentes bancários.

O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Carlos Cordeiro, se mostrou favorável ao PDC e criticou as posições que o Banco Central toma respeito dos correspondentes e influencia sobre relações de trabalho. “O Banco Central funciona hoje como um verdadeiro sindicato nacional dos bancos. Em vez de se preocupar com a sociedade e com o desenvolvimento econômico e social do país, age única e exclusivamente a serviço do sistema financeiro”, pontuou.

A argumentação de que os correspondentes têm o objetivo de atender o público em locais mais distantes foi rebatido pelo dirigente. “Quando foram criados, na década de 1970, a intenção era realmente essa”, disse. “Mas paulatinamente o Banco Central foi alterando a sua função (do correspondente), atendendo os interesses dos bancos, e hoje eles podem fazer praticamente tudo o que as agências fazem. Mas é mentira que eles estão levando atendimento às populações distantes e desassistidas”, criticou Cordeiro, que não acredita na perda de empregos e de assistência à população com a aprovação do PDC.

A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira, também acompanhou a audiência. Para ela, a ampliação dos correspondentes acentua a segregação dos clientes mais pobres. “Ficou claro que, para a Fenaban, agência bancária não é lugar de pobre. E essa discriminação é apoiada pelo Banco Central. Os bancos estão usando o correspondente para reduzir custos com o apoio do BC, extrapolando sua competência ao legislar sobre relações trabalhistas”, afirmou.

Os bancários defenderam também a soma de esforços do Congresso Nacional para convencer a presidenta Dilma Rousseff a convocar Conferência Nacional sobre o Sistema Financeiro, com consulta pública sobre os rumos que os bancos devem tomar nos próximos anos.

Participaram da mesa da audiência pública convocada pelo presidente da Comissão de Finanças, deputado Cláudio Puty (PT-PA), o deputado Ricardo Berzoini, o Banco Central (representado pelo gerente do Departamento de Normas Sérgio Odilon), a Febraban (representada por Gérson Gomes da Costa), e Amaury Martins de Oliva, diretor-substituto do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça.