Alento

Camaçari se prepara para receber novos donos da ex-fábrica da Ford e espera recuperação econômica

Futura unidade da chinesa BYD na Bahia não terá o mesmo porte, mas traz esperança aos trabalhadores. Montadora produz veículos elétricos

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Planta industrial que será ocupada pela BYD em Camaçari: sindicalista calcula em "no máximo" mil trabalhadores diretos na unidade

São Paulo – Dois anos depois do anúncio do fechamento da Ford, a principal fábrica da região, Camaçari (BA) deverá receber evento de porte até o final do mês para comemorar a chegada da BYD, produtora chinesa de veículos elétricos. A empresa vai se instalar justamente na área da Ford. Embora a produção e o número de empregos a serem criados sejam menores, a notícia dá alento ao município, que vive um período de terra arrasada após a saída da montadora norte-americana.

O anúncio oficial ainda não foi feito. Está prevista cerimônia com a presença do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, do ministro da Casa Civil, Rui Costa, ex-governador, e talvez do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A chegada de uma empresa de grande porte, após anos de notícias negativas, é vista como oportunidade de um começo de recuperação da economia e da indústria.

Unidades no Brasil

A BYD já tem operações no Brasil. Chegou em 2015, com uma fábrica de ônibus elétricos em Campinas, interior paulista. Abriu uma segunda (módulos), na mesma cidade em 2017, e três anos depois criou uma unidade de baterias no Polo Industrial de Manaus. Tem projetos de monotrilho em Salvador e São Paulo.

“Estava todo mundo sem perspectiva de emprego. Com essa oportunidade, a história muda”, afirma Júlio Bonfim, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari e conselheiro da entidade. Ele foi funcionário da Ford de 2002 até o fechamento. Quando isso aconteceu, recorda, foi criado um “comitê de fomento” – com governo, empresários e trabalhadores – em busca de atrair empresas para a região. Isso incluiu visitas a representações diplomáticas, como as da Índia e do Japão, além da própria China.

Fechamento trouxe “caos”

A cidade como um todo e os trabalhadores, em especial, passariam por momentos difíceis. “Não foi pior por causa do acordo de R$ 1 bilhão (entre indenizações e verbas rescisórias). Então, a cidade se movimentou financeiramente durante um ano. Muito estabelecimentos fecharam, foi um caos”, lembra o metalúrgico.

Assim, vários demitidos tentaram viver de renda de aluguel, outros abriram estabelecimentos comerciais e outros viraram motoristas de Uber. “Muitos estão sem opção ainda. O dinheiro acabou e agora estão com a mão na cabeça, desesperados. Conheço muitos assim”, relata.

Fim de atividades no Brasil

E não foi só Camaçari. Na mesma época, em 11 de janeiro de 2021, a Ford anunciou o fechamento das fábricas de Taubaté (SP) e Horizonte (CE). Dois anos antes, já havia encerrado atividades em São Bernardo do Campo. “Ali foi o início das dores, já foi uma sinalização”, comenta Júlio. Com impactos em toda a cadeia produtiva, como estimou o Dieese.

Ele pondera que a futura fábrica estará longe de ter a dimensão da Ford. O sindicalista calcula em “no máximo” mil trabalhadores diretos na unidade em Camaçari. Segundo Júlio, eram 3.600, chegando a 4.500 com o pessoal administrativo. Incluindo os fornecedores (chamados de “sistemistas”, que ficam no local), até 8 mil. Com terceirizados, o total podia chegar a 12 mil, de acordo com os cálculos do ex-funcionário.

Mas a área está bem conservada e praticamente com todo o maquinário, afirma Júlio. “O que foi retirado foi das empresas de autopeças. Mas dos equipamentos da Ford está tudo lá.” Mas haverá necessidade de adaptações para a produção de veículos elétricos. O metalúrgico diz que não costuma ir ao local para evitar tristeza. “Fui lá no prédio da montagem, deu vontade de chorar, é horrível.” Agora pretende retornar, com a volta das operações, “para ver se o astral está melhor”.


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