Gritos na Multidão

Quarenta anos da CUT: banda Ira! agita festa em Praia Grande

Trabalhadores também vão curtir o samba de Os D’Jorge e da bateria da Unidos do Peruche, batalha de Slam e feiras gastronômica e de artesanato

Divulgação
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Com trajetória paralela a da CUT, líder do Ira! comemora o restabelecimento da democracia: "Foi por pouco"

São Paulo – Para marcar seus 40 anos, a CUT realiza uma grande festa neste sábado (26). A celebração vai ocorrer em Praia Grande, no litoral sul paulista, onde a história da maior central do país começou. Os trabalhadores poderão aproveitar feiras gastronômica e de artesanato, batalha de Slam e shows gratuitos. A banda Ira!, uma das mais importantes do rock brasileiro, é a atração principal.

Foi em Praia Grande, em agosto de 1981, que milhares de delegados sindicais de todo o país participaram da 1ª Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat). Ainda durante a ditadura, os trabalhadores ali reunidos aprovaram a formação de uma comissão nacional pró-CUT, que deu o pontapé inicial para o surgimento da central, dois anos depois.

Quase ao mesmo tempo, a banda Ira! também começava a dar os seus primeiros passos. Em outubro de 1981, Marcos Valadão Ridolfi – o Nasi – e Edgar Scandurra se juntavam a Fábio Scattone e Adilson Fajardo para fazer o primeiro show em um festival ao lado de grupos punk da região do Grande ABC.

Lançado em 1984, Gritos na Multidão, um dos primeiros hits da banda, tem versos inspirados nas greves do ABC do início dos anos 1980, que forjaram a fundação da central. Ao Portal da CUT, Nasi conta que trechos da letra, como “Estou desempregado, estou desgovernado / A fome me faz mal, estou passando mal / Mas vou entrar na luta, eu vou sair na rua”, renderam um caso de censura à banda. “Ela foi proibida pela radiodifusão quando a lançamos, ainda havia um pouco de censura”, lembra.

Mais democracia, menos desigualdade

Desde 2003, Nasi é filiado ao PCdoB. Ele afirma que, atualmente, o que o move é a luta em defesa de um país com menos desigualdades e principalmente, maior autonomia cultural, em que “artistas de verdade e não criações de gravadoras, tenham espaço”.

Na entrevista, ele celebrou o pleno restabelecimento da democracia no país, com a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições do ano passado. Por outro lado, lamentou que muitos artistas, incluindo roqueiros, tivessem se alinhado com o bolsonarismo nos últimos anos.

“Vejo com muita tristeza, mas não fico julgando biografia alheia. A história já está contando a verdade sobre como foram esses anos terríveis e como estivemos próximos de um rompimento democrático, uma ditadura. Fardada, inclusive. Foi muito triste e espero que o Brasil caminhe na direção oposta, como já está fazendo. Foi por pouco, mas conseguimos realinhar o Brasil com a democracia e a justiça”, analisa.

Para além disso, o vocalista do Ira!, iniciado em Ifá, tradicional filosofia iorubá, também se posiciona contra o racismo religioso e vê com grande preocupação casos como o recente assassinato da Ialorixá e líder quilombola Mãe Bernadete Pacífico, na Bahia, e o asilo político na Suíça da mãe de santo Carmem Flores, do Rio de Janeiro, em 2017, atacada por traficantes “evangélicos”.

SERVIÇO

Festa de comemoração dos 40 anos da CUT
Sábado – 26 de agosto | 17h às 22h
Local: Avenida do Sindicato, 523 – Praia Grande (SP) – em frente à Colônia de Férias do Sinergia

Programação

  • Na rua a partir das 17h – feira de Artesanato, food trucks e oficinas de técnicas de Grafitti em camisetas, sacolas e latinhas, Slam, batalha de poesias aberta ao público
  • No palco a partir das 18h
    – Show do grupo Os D’Jorge (samba)
    – Apresentação da bateria e passistas da escola de samba Unidos do Peruche
    – Show de encerramento, com o grupo Ira!