Só perdas

Proposta dos bancos de reajuste zero e redução de direitos ‘joga a categoria para a greve’

Para presidenta da Contraf-CUT, setor mostra falta de compromisso com trabalhadores, linha de frente na pandemia. Sábado tem nova rodada de negociação e carreata de protesto contra proposta dos bancos

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Em negociação virtual realizada nesta sexta, bancos mantêm proposta de retirar direitos e querem reajuste zero. Na terça, assembleias em todo o país podem definir greve dos bancários

São Paulo – Na retomada das negociações, nesta sexta-feira (21), a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) não só ratificou proposta feita na véspera, de redução ou retirada de direitos, como acrescentou índice zero de reajuste na data-base (1º de setembro). O conjunto de propostas impõe perdas à categoria em um setor que não pode alegar crise, lembrou a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira, também coordenadora do Comando Nacional dos Bancários. Mantida essa posição, a greve dos bancários poderá ser inevitável.

Haverá nova reunião amanhã (22), quando os bancários fazem carreata de protesto contra a proposta da Fenaban. Em São Paulo, a concentração está marcada para as 10h30, na Praça Arlindo Rossi (próxima à Ponte Estaiada, no Brooklin, zona sul).

“Se outros setores têm motivos para reclamar, os bancos não têm”, reagiu Juvandia, pouco depois da reunião. “Obviamente, estão jogando a categoria para uma greve. Não tem nada de bom na proposta deles. É falta de sensibilidade dos bancos, de compromisso com os trabalhadores, que estão na linha de frente. Mais de 30 bancários perderam a vida nesta pandemia.”

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A Fenaban já havia proposto reduzir a gratificação por função de 55% para 50% e acabar com a 13ª cesta-alimentação, direitos que constam da convenção coletiva de trabalho. Na terça-feira (18), os negociadores patronais falaram em reduzir a participação nos lucros ou resultados (PLR), cujo valor poderá cair até 48%.

Perda de R$ 13 mil

Essas propostas, somadas, levariam – segundo cálculo do Dieese – a uma perda anual de R$ 13.282,57 no salário médio. Por outro lado, os representantes dos trabalhadores lembram que os quatro maiores bancos do país tiveram lucro de R$ 28,4 bilhões apenas no primeiro semestre. Fora isso, observou Juvandia, o setor financeiro foi o primeiro a ser “socorrido” pelo governo, ainda no início da pandemia.

Ao mesmo tempo em que oferece reajuste zero, a Fenaban não quer discutir garantia de emprego no setor. E se recusa a negociar regulamentação para a prática do teletrabalho. Medida que, durante a pandemia, proporcionou economia para os bancos e aumento de custos (luz, alimentação, internet) para o funcionário. Dois terços dos 453 mil empregados chegaram a ficar em home office. Os bancários calculam essa economia, para as instituições financeiras, em R$ 267 milhões.

Assembleia na terça

Além da reunião deste sábado, às 11h, há mais uma rodada de negociação marcada para terça-feira (25). No mesmo dia, a partir das 19h, os bancários fazem assembleias para avaliar os rumos da campanha salarial e decidir os próximos passos.

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Os trabalhadores reivindicam reajuste com base na inflação mais 5% a título de aumento real. Já a PLR seria fixada em três salários, além de uma parcela fixa de R$ 10.742,91. Os vales alimentação e refeição ficariam em R$ 1.045 (valor correspondente a um salário mínimo) cada. A pauta foi entregue em 23 de julho.