Congresso

‘Dilma tem nosso apoio, mas se não mudar sua política econômica, vamos mudá-la nas ruas’

Reeleito para a presidência da CUT, Vagner Freitas cobra governo federal, mas diz que central também continuará combatendo tentativas de retrocesso político. Chapa única foi eleita por aclamação

Dino Santos/cut

CUT encerra 12º congresso e empossa nova direção

São Paulo – A chapa única para a direção da CUT nos próximos quatro anos foi eleita por aclamação no início da tarde de hoje (16), último dia do 12º congresso da central, realizado em São Paulo. Representantes das forças políticas que atuam na entidade reforçaram a importância de se unir em um momento de conjuntura econômica e, principalmente, política adversa. Manifestaram apoio ao governo Dilma Rousseff, mas voltaram a cobrar mudanças.

“A presidenta Dilma tem de nós todo o apoio para continuar sua gestão, mas mude sua política econômica, ou vamos mudá-la nas ruas”, afirmou o presidente reeleito da CUT, Vagner Freitas. Ele também fez menção ao Poder Judiciário (“Não foi criado para fazer política, é para fazer justiça) e à mídia: “Não haverá democracia no Brasil enquanto não houver democratização dos meios de comunicação”. No início do congresso, Freitas já havia dito que os trabalhadores “não devem e não vão pagar a conta” do ajuste.

A vice-presidenta reeleita, Carmen Foro, reforçou o objetivo de “derrubar” a política econômica. “Ou não haverá desenvolvimento, emprego, garantia de políticas públicas”, acrescentou. Ela destacou a necessidade de realizar um “profundo trabalho” para aumentar a participação da juventude no movimento sindical.

Por haver apenas uma chapa, fato incomum em congressos da CUT, não houve votação, mas apenas a apresentação dos dirigentes e aclamação, às 13h28. A definição dos nomes foi feita, inclusive, antes do congresso. As correntes internas da central enfatizaram a unidade.

“Essa chapa é produto de uma gestão de muita coerência e vontade de lutar”, disse o agora ex-secretário de Políticas Sociais da central Expedito Solaney, que voltará a atuar na central em Pernambuco. Segundo ele, foi o “enfrentamento” que garantiu a autonomia da CUT. “Temos unidade de ação e clareza ideológica.”

“A classe trabalhadora tem lado, tem projeto político”, afirmou Rosane Silva, que deixou a Secretaria da Mulher Trabalhadora. “Mas também vamos questionar o que está errado no projeto político que elegemos.” Ela se emocionou ao lembrar a implementação da paridade de gênero na central – a direção da CUT passa, a partir de agora, a ter o mesmo número de homens e mulheres (22). “Estamos concretizando o sonho de todas nós, com as mulheres ocupando espaços de poder na central.”

Presidente da Confederação Sindical Internacional e ex-presidente da CUT, João Felício, que deixa a executiva, fez questão de assinalar que a chapa eleita é formada por “companheiros de esquerda”. “Temos lado na sociedade brasileira. Temos uma história de profunda relação com a nossa base. O dia em que a elite brasileira gostar de vocês (dirigindo-se aos delegados), se preocupem.”

Cobrança

O debate predominante durante o congresso foi como ampliar a articulação com os movimentos sociais, defender a democracia e cobrar alterações de rota na política econômica. O coro mais repetido pedia a saída do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, além do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ): “Eu quero a Dilma que eu elegi/ Fora Cunha e o ajuste do Levy”.

“A Dilma derrotou o Aécio graças à CUT e aos movimentos sociais. Não foi nenhum marqueteiro mágico”, disse, durante o congresso, o diretor da central Julio Turra. Por isso, a cobrança é para que a presidenta “aplique o programa vitorioso nas urnas”.

Parte dos movimentos sociais não concorda com o apoio irrestrito à presidenta. Essa divergência também foi apresentada durante os debates no congresso, no sentido de que o governo dê um “giro à esquerda”.

A própria Dilma foi à abertura do congresso cutista, na última terça-feira (13), quando pediu apoio, falou em dificuldades, reafirmou compromisso com a área social e fez um discurso mais agressivo contra a oposição. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu Dilma, mas também criticou o ajuste. Lula deverá estar presente na festa de posse da nova direção, hoje à noite.