Bancários e funcionários dos Correios fazem passeata conjunta em São Paulo e reclamam de intransigência

TST marcou audiência de conciliação para a próxima terça entre ECT e trabalhadores. Comando dos bancários aguarda retomada de negociações

São Paulo – Trabalhadores bancários e dos Correios se reuniram em São Paulo nesta sexta-feira (30) para protestar contra o que chamam de a intransigência dos respectivos patrões durante as negociações da campanha salarial. Enquanto os bancários estão em greve desde terça (27), os funcionários da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) já completaram 17 dias de paralisação. Sem acordo, a ECT entrou com pedido de dissídio no Tribunal Superior do Trabalho (TST), que marcou audiência de conciliação para a próxima terça-feira (4), a partir das 13h. No mesmo dia, caravanas vindas de vários estados farão manifestação em Brasília. Já os trabalhadores do setor financeiro continuam aguardando a reabertura das negociações.

Os dois grupos se concentraram no Vale do Anhangabaú, na região central da cidade, e seguiram em passeata para a Praça da Sé. As críticas mais comuns se referiam aos lucros obtidos tanto pelos bancos como pela ECT, sem o devido repasse aos trabalhadores.

Muitas famílias participaram do protesto, inclusive com crianças.  Carteiro há 11 anos, Jorge dos Santos, de 47 anos, é incisivo em sua opinião. “A gente não está preocupado com isso não (ameaças, como a de desconto dos dias parados), entendeu? Estamos preocupados é que nossas reivindicações sejam atendidas, o que é o principal. E não o corte de ponto”, afirmou o funcionário. Para ele, os resultados obtidos permitem à empresa atender às reivindicações.

Mesmo com pouco mais de uma década de serviços, Jorge ganha R$ 840 – que é o piso salarial da categoria – e precisa fazer empréstimos pessoais com frequência para pagar todas as contas. “A gente pede empréstimo atrás de empréstimo para o banco a todo o momento para poder sobreviver. Sem palavras, é algo absurdo. E eles pensam que o que propõem é o suficiente”, disse.

Assaltada sete vezes durante o serviço em apenas cinco anos, a carteira Luciana Lima, de 37 anos, reclama de “descaso” da companhia e espera por um resultado favorável nas negociações. ” Nós também fazemos a empresa crescer, não são só eles lá de cima que favorecem a empresa. Também vem de baixo, de nós, funcionários.”

A categoria pede reposição da inflação de 7,16%, reajuste de 24,76% (índice referente a perdas de 1994 a 2010) e aumento linear de R$ 200. Os Correios oferecem 6,87% e R$ 80 de aumento real, para janeiro de 2012, além de abono de R$ 500.

“Enfrentamos sol, chuva, correndo de ladrão, e ganhamos só um adicional de periculosidade para isso (30%). Nossas vidas valem mais do que um bônus no salário”, desabafou a trabalhadora. Segundo ela, a disposição é de continuar o movimento, diante do impasse.

Adesão

O Comando Nacional dos Bancários informou que continua aguardando nova reunião com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban). A adesão ao movimento, segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), atinge agora 7.865 agências e centros administrativos, em 25 estados e no Distrito Federal. A proposta patronal ainda é de 8%, o que representa aumento real (acima da inflação) de 0,56%. Os trabalhadores querem 12,8% (5% de aumento real).

Claudio Miranda, de 42 anos de idade, é bancário da Caixa Econômica há 22 anos e se diz acostumado com a dificuldade em “arrancar” índices satisfatórios de reajuste. “Nós queremos os 12,8% e melhores condições de trabalho”, resumiu, citando mais proteção e segurança nas agências contra os assaltos e “saidinhas de banco”. Em reunião específica sobre o assunto, a Fenaban declarou que já existe segurança suficiente e negou novas medidas.

“Principalmente nós, dos bancos públicos, escutamos muito que funcionário ganha bem e não deveria fazer greve porque atrapalha o pessoal. E não é bem isso a verdade”, lamentou. “Ao mesmo tempo, estamos tentando mostrar à população que o ramo financeiro é um setor que lucra milhões e milhões”, disse o bancário.