Ciência brasileira

Pesquisadores brasileiros buscam vacinas para febre maculosa em ascensão

Febre maculosa, que já deixou mortos em São Paulo, é de difícil diagnóstico e detecção. Cientistas se debruçam sobre vacinas

CDC/USA
CDC/USA
A doença evolui rapidamente e os sintomas são brandos e genéricos

São Paulo – O estado de São Paulo confirmou, na noite de ontem (13), a terceira morte por febre maculosa. Existe a suspeita de, pelo menos, mais uma morte e três outros casos letais. Todas as suspeitas, concentradas na região de Campinas, a 100 quilômetros da capital. As três vítimas já confirmadas estiveram no mesmo evento, um churrasco na Fazenda Santa Maria, em Joaquim Egídio, na zona leste da região campineira. A data da provável infecção foi 27 de maio. Enquanto isso, cientistas brasileiros caminham para o desenvolvimento de vacina.

De acordo com autoridades sanitárias, o período de incubação da doença varia entre sete e 14 dias. Historicamente, em cerca de 40 anos de observação da bactéria que provoca a doença, o interior de São Paulo figura como região de risco. O patógeno é de difícil identificação. A doença evolui rapidamente e os sintomas são brandos e genéricos. No geral, febre alta e sintomas não conclusivos, além de manchas que começam nas mãos. Então, estes estigmas se alastram aos poucos para todo o corpo.

A dificuldade no diagnóstico tem razão pela demora nos exames laboratoriais para confirmar a doença, além dos sintomas que coincidem com outras mazelas, como a dengue, zika e chikungunya.

A febre maculosa é uma doença incomum, provocada por uma bactéria, que tem tratamento. Contudo, ele deve ser rápido e preciso. Especialistas avaliam que as vítimas tiveram um quadro de complicação bacteriana, que evoluiu rapidamente para uma infecção que afetou o sistema circulatório. Então, coágulos decorrentes da doença tornaram o quadro irreversível, uma vez que esta bactéria tem como característica o prejuízo de partes nobres do corpo.

Infecção via carrapatos

A infecção por febre maculosa advém de carrapatos, em especial do carrapato estrela. Isso não significa que todo carrapato está contaminado. Na verdade, existem dois carrapatos distintos ligados à transmissão da doença. Um deles, mais ligado aos casos relatados, historicamente, na capital paulista e no litoral, carrega uma forma mais branda da doença. Já a forma mais grave, no geral, possui histórico de disseminação no interior do estado.

Também é importante ressaltar os fatores relativos à prevenção. Hospedeiros secundários, outros mamíferos, como gatos, cachorros e (especialmente) capivaras podem ser hospedeiros do carrapato estrela contaminado. Contudo, isso não significa que eles sejam responsáveis, de forma alguma, pela disseminação da bactéria. Ao contrário, são vítimas assim como os humanos. Então, para aqueles que possuem animais de estimação, vale reafirmar a importância do uso de medicamentos preventivos, assim como manter a vacinação em dia. Sobre as capivaras, que não são domésticos e sim selvagens, cabe a distância respeitosa e consciente desses animais.

Ciência brasileira

Ao mesmo tempo em que a febre aftosa assusta por ser rápida e inesperada, a ciência brasileira não assiste átona ao fato. Estudo divulgado nesta quarta-feira (14) por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) apontam para o possível desenvolvimento de uma vacina contra a febre maculosa.

Até então, não existe fármaco que proteja os cidadãos de forma preventiva contra a doença. Isso pode estar prestes a mudar. Cientistas da universidade identificaram uma proteína presente na bactéria Rickettsia rickettsii que pode ser responsável por questões metabólicas essenciais para o crescimento das colônias dos parasitas. A partir desse entendimento, é possível planejar o desenvolvimento de imunizantes que barrem esta proteína. Algo como acontece com a proteína Spike, alvo das vacinas contra a covid-19.

“As informações (estudadas) sugerem algo ainda mais interessante do que apenas bloquear a infecção: é possível conter e diminuir a densidade populacional do hospedeiro”, explica Andréa Cristina Fogaça, professora do Departamento de Parasitologia do ICB-USP e coordenadora do estudo.


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