Desassistência

Na onda ômicron, parte da população não teve acesso a leitos de UTI, diz Fiocruz

O Brasil registrou hoje 854 mortes pela covid-19, com mais de 120 mil novos casos, somando 27,6 milhões

Breno Esaki/Agência Saúde
Breno Esaki/Agência Saúde
De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a covid-19 é responsável por 92,22% das mortes por doenças respiratórias no país

São Paulo – A explosão de casos de covid-19 decorrente da variante ômicron causou “forte impacto no sistema de saúde” no início de 2022, de acordo com análise do MonitoraCovid-19, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Assim, diversas regiões do país registraram níveis críticos nas taxas de ocupação dos leitos de UTI no SUS. Como resultado, os pesquisadores identificaram “volume expressivo” de mortes ocorridas fora da UTIs. O que revela, segundo os pesquisadores, que parte da população ficou “desassistida” durante recente pico da doença.

Esse crescimento dos óbitos hospitalares fora das UTIs ocorreu principalmente nos estados do Acre, Amazonas, Ceará, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Sergipe e São Paulo. “Somando óbitos fora de uma UTI e sem informação, observam-se valores
próximos a 50%”, diz nota técnica publicada nesta terça-feira (15).

“A maior parte dos leitos de UTI estava ocupada durante o mês de janeiro. Em muitos casos, houve um excedente de óbitos ocorridos fora das UTIs, ou seja, em alas comuns de internação. Isso significa que uma parte da população não teve acesso a terapia intensiva”, declarou o pesquisador Diego Xavier.

Ômicron letal

A nota da Fiocruz também aponta que, do ponto de saúde pública, não é possível considerar a ômicron como uma variante menos letal. Isso em função do aumento exponencial no número de casos. “Mesmo que o percentual de pessoas que necessitem de atendimento especializado seja pequeno frente ao volume extremamente alto de casos, as redes de atendimento acabam sendo ocupadas”. É esse fator que contribuiu, em última análise, para a a “desassistência à saúde”. O que acaba resultando também no aumento dos óbitos.

A letalidade da ômicron não se assemelha àquelas registradas durante os picos causados pelas variantes anteriores. “No entanto, os números são expressivos”, de acordo com os especialistas. “Sobretudo quando consideramos que a covid-19 é, hoje, uma doença previnível do ponto de vista de complicações clínicas, desde que exista uma alta taxa de vacinação na população.”

Epidemia de não vacinados e desigualdade

Além de a ômicron ser mais transmissível, os pesquisadores relacionam internações ao fato de que uma grande parcela da população brasileira ainda não completou seu esquema de vacinação. Até o momento, apenas 34,92% das pessoas com 18 anos ou mais tomaram a dose de reforço.

“Existe uma epidemia de não vacinados que lotam os hospitais, sufocam os serviços de saúde e impossibilitam atendimento de outros problemas de saúde que continuam acontecendo. Isso parece ocorrer tanto no Brasil quanto em outros países analisados”, diz ainda a nota técnica.

Nesse sentido, eles alertam que a desigualdade geográfica na vacinação é um “problema urgente” no Brasil. “Enquanto temos no Sul e Sudeste do país, patamares de vacinação acima de países ricos da Europa, principalmente no Norte do país temos bolsões de não vacinados próximos a países pobres da África”, criticam os pesquisadores.

Balanço da covid no Brasil

O Brasil registrou hoje mais 854 mortes pela covid-19, com novo aumento em relação ao dia anterior. Ainda assim, média móvel de óbitos teve leve queda, ficando em 840 nos últimos sete dias. Na semana passada, foram três dias com mais de mil mortos. Nas últimas 24 horas, também foram registrados mais 120.549 novos casos. Nesse critério, a média móvel ficou em 126.062, a menor desde 21 de janeiro.

Conforme o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), o país tem, ao todo, 639.689 mortos pela covid-19 oficialmente registrados, com mais de 27,6 milhões de casos.

De acordo com a plataforma Info Tracker (USP/Unesp), a taxa de transmissão da covid-19 no Brasil está em 1,4 atualmente. Isso significa que, a cada 10 pessoas que contraem a doença, outras 14 são contaminadas. A boa notícia é que a previsão é que esse número caia para 0,97 até a próxima segunda-feira (21). Caso se confirme, significaria que a transmissão da doença voltaria a ficar “sob controle”, o que não acontece desde o fim de dezembro.

Números de casos e mortes pela covid-19 desta terça-feira no Brasil. Fonte: Conass