Pandemia no mundo

Governos populistas, como o do Brasil, são responsáveis pelo maior número de mortes evitáveis pela covid-19

“As populações submetidas a governos da necropolítica estão sujeitas a realmente serem encurraladas e conduzidas para o abismo”, adverte a médica sanitarista Lucia Souto

Bruno Kelly/Amazônia Real
Bruno Kelly/Amazônia Real
Cemitério em Manuaus. Amazonas esteve no centro da tragédia brasileira, onde faltou até oxigênio nos hospitais

São Paulo – O risco de morte em decorrência da covid-19 é mais alto em países com governos ditos populistas, como o Brasil com Jair Bolsonaro (PL), do que em outros lugares. Em média, o excesso de mortalidade – número de mortes além daquelas esperadas caso não houvesse a pandemia  – nessas nações foi o dobro do registrado por países com outros tipos de governo. É o que conclui estudo divulgado nesta ontem (27) pelo Instituto de Economia Mundial (IfW) da Alemanha. 

A pesquisa analisou a gestão da pandemia ao longo de 2020 em 42 países que são membros do fórum Brics e da Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). E identificou que os populistas foram os piores gestores da crise sanitária e responsáveis por muitas mortes evitáveis nos países que governam. Além do Brasil, outros 11 governos, como o de Donald Trump, nos Estados Unidos, também foram classificados dessa forma. A lista inclui Reino Unido, Polônia, Eslováquia, República Tcheca, Hungria, Índia, México, Israel e Turquia. 

Os pesquisadores atribuíram o excesso de mortalidade mais elevado à falta de restrições de mobilidade e às propagandas desacreditando a gravidade da pandemia e as descobertas da ciência. 

Consequências da necropolítica 

Em entrevista a Marilu Cabañas, do Jornal Brasil Atual, a médica sanitarista Lucia Souto, presidenta da Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (Cebes) ressaltou a importância do estudo que mostra que esse tipo de projeto mais vinculado ao “populismo reacionário”, como o de Bolsonaro, “tem consequências”. Também pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Lucia lembra de estudos brasileiros que também já apontam que pelo menos dois terços dos mais de 625 mil óbitos em decorrência da covid poderiam ter sido evitados “se houvesse uma gestão que o Brasil poderia ter feito da pandemia”, ressalta. 

“As populações submetidas a governos da necropolítica estão sujeitas a realmente serem encurraladas e conduzidas para o abismo”, adverte. A presidenta do Cebes lamenta, contudo, que mesmo com o alto patamar de vítimas o governo Bolsonaro continue “sabotando criminosamente o enfrentamento à pandemia”. Agora, indo contra a vacinação de crianças, cientificamente aprovada. O que torna tudo ainda mais “exaustivo”. “Todo momento em que estamos criando condições para superar, como agora com a importantíssima vacinação das crianças, um grupo suscetível (à doença), está sendo criada toda uma confusão no Brasil para impedir, atrapalhar, sabotar e criar dúvidas na cabeça de pais e mães que não são necessárias”, cita a sanitarista. 

“Quando a Anvisa aprova (a vacina) é porque já trabalhou com rigor toda a segurança e efetividade da imunização para as crianças”, explica. “Tudo isso repercute o que esse estudo está falando, é um exemplo prático. Nós ainda estamos no Brasil enfrentando esse tipo de situação muito grave que é você ter a frente do Ministério da Saúde um médico falando esse tipo de situação absolutamente mentirosa, que não tem nenhuma base na ciência, criando confusão, impedindo que a gente possa superar e controlar a pandemia”, finaliza Lucia Souto. 

Confira a entrevista

Redação: Clara Assunção

(*) Com informações da Deutsche Welle e do jornal O Globo