Estudo inédito sobre aborto no Brasil é premiado nos Estados Unidos

Porto Alegre – A magnitude do aborto no Brasil, apontada em estudo de cientistas da Universidade de Brasília (UnB), resultou no prêmio mais importante sobre saúde pública nas Américas. Oferecido […]

Porto Alegre – A magnitude do aborto no Brasil, apontada em estudo de cientistas da Universidade de Brasília (UnB), resultou no prêmio mais importante sobre saúde pública nas Américas. Oferecido pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), o Fred L.Soper à Excelência em Literatura sobre Saúde Pública foi concedido na terça-feira (18) ao economista e sociólogo Marcelo Medeiros e à antropóloga Debora Diniz, em Washington, nos Estados Unidos. O estudo “Aborto no Brasil: uma pesquisa domiciliar com técnica de urna” foi financiado pelo Ministério da Saúde e constatou de forma confiável, pela primeira vez no Brasil, que uma em cada cinco mulheres aos 40 anos já interrompeu a gravidez ao menos uma vez na vida. Metade delas teve de ser internada.

“Esses resultados tiraram o debate de uma discussão moral para uma constatação científica, colocando-o na pauta da saúde pública”, diz Medeiros. Até então, não havia estatística confiável sobre o assunto. Costumava-se usar o número de 200 mil curetagens feitas no SUS por ano, multiplicando-as por cinco para estimar o fenômeno do aborto.

A metodologia foi o item mais trabalhoso na pesquisa, que durou dois anos. Era preciso convencer as mulheres a contar se fizeram aborto, um tema delicado por si só, ainda mais em um país onde a prática é considerada crime. Dessa dificuldade surgiu a ideia de usar a técnica de urna.

As entrevistadas respondiam a um rápido questionário sociodemográfico oral e, depois, nos moldes de uma eleição, recebiam uma cédula com cinco perguntas específicas a respeito da interrupção da gravidez. Preenchiam o papel e o depositavam na urna vedada. Explicando assim, pode até parecer uma metodologia simplória mas, na prática, as dificuldades começaram bem antes do trabalho de campo, que alcançou 2 mil entrevistadas em todo o Brasil, exceto em uma parte da área rural.