Cartilha defende estudos de riscos sobre nanopartículas

Cada novo material cuja composição química é alterada precisariam de avaliações de saúde e de segurança antes de ser liberado para o consumo

Segundo o livreto “A manipulação do Invisível”, publicado recentemente pelo Centro Ecológico, ASA Brasil e Rede Ecovida de Agroecologia, com apoio da Fundação Heinrich Böll, há fortes indícios de que os nanomateriais oferecem grandes riscos. Isso porque eles têm propriedades e comportamentos tão diversos que é impossível fazer uma avaliação genérica de seus riscos à saúde e ao meio ambiente.

Cada novo material deveria passar por avaliações de saúde e segurança antes de ser liberado para uso comercial. Nanomateriais podem ser mais tóxicos que as versões maiores de um mesmo composto.

As nanopartículas têm uma superfície enorme proporcionalmente à sua massa (seu peso). Por causa disso, elas apresentam maior reatividade química, mais atividade biológica e uma maior ação catalizadora quando se comparam com partículas macro da mesma composição química.

Como os nanomateriais podem ter uma biodisponibilidade mais elevada do que partículas macro, eles são mais absorvidos pelas células, pelos tecidos e pelos órgãos. Nanomateriais com a mesma composição química, que tenham tamanhos ou formas diferentes, podem ter toxicidades completamente distintas.

Também devido ao seu tamanho, os nanomateriais são capazes de penetrar através da pele e da corrente sanguínea. Porém, eles são tão pequenos que o sistema imunológico não consegue detectá-los, ou seja, eles “fogem” dos mecanismos de controle e proteção do corpo, podendo atravessar membranas protetoras como a da placenta e a do cérebro (barreiras naturais que servem para impedir a entrada de agentes tóxicos no cérebro).

No nível atômico não há distinção entre matéria viva e não viva, o que significa que nanopartículas inanimadas (não-vivas) introduzidas em organismos vivos não seriam rejeitadas porque o organismo não seria capaz de diferenciá-las das partículas de sua própria constituição biológica. Ou seja, são indetectáveis.

Vários estudos mostraram que nanopartículas sintéticas contidas em nanomateriais comercializados, ao entrar em contato com tecidos vivos, produzem radicais livres, causando inflamação ou dano aos tecidos e ao DNA e o posterior crescimento de tumores. Também afetam negativamente as funções celulares podendo até causar morte celular.

Em 2009, o painel de especialistas da Agência Européia para Segurança e Saúde no Trabalho identificou que as partículas nano (e as ultrafinas) são o principal risco à saúde nos locais em que se trabalha com elas. Esses riscos ocupacionais têm que ser enfrentados imediatamente, pois trabalhadores que manuseiam, fabricam, empacotam ou transportam mercadorias, alimentos ou insumos agrícolas que contêm nanomateriais enfrentam uma exposição repetitiva e em níveis mais elevados do que a população em geral. Também pode ocorrer contaminação após o descarte, no ambiente, de sobras de fabricação ou de produtos fora de uso.

E o preocupante é que os cientistas ainda não sabem qual o nível de exposição a nanomateriais que poderia afetar a saúde dos trabalhadores. Nem se há um nível de exposição ocupacional que pode ser considerado seguro. Também ainda não existem sistemas e equipamentos confiáveis para prevenir a exposição no trabalho.

Estudos mostraram que a forma principal de contaminação por exposição ocupacional é a inalação de nanomateriais, que daí vão para a corrente sanguínea. A outra forma mais frequente é a penetração pela pele. Mas, como não se conhece os limites seguros de exposição de qualquer das nanopartículas, só restam medidas paliativas de proteção, como, por exemplo, recomendar o uso de luvas. As legislações sobre saúde no trabalho não consideram as nanopartículas como novos químicos. 

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