cortejo fúnebre

Em mais um dia acima de 2 mil mortos, covid no Brasil indica contágio acelerado

Médias de casos e mortos diários crescem, enquanto variante predominante em países como o Peru ameaça chegar ao Brasil”Mais sensato seria a suspensão da Copa América”, defende pesquisador da Fiocruz

Chico Batata/Divulgação
Chico Batata/Divulgação
O esperado é uma escalada de mortes nas próximas semanas. Especialistas apontam para o descontrole da transmissão no país, que ruma para uma "terceira onda", sem sequer ter deixado a segunda

São Paulo – O Brasil registrou, nesta quinta (17), mais um dia com número elevado de mortes e novos casos de covid-19, com 2311 vítimas da infecção registrada em um período de 24 horas. Os dados foram fornecidos pelas secretarias de Saúde dos estados e consolidados pelo Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass). Com o acréscimo de hoje, o país soma 496.004 mortos pela pandemia, desde seu início, em março de 2020.

Em relação ao número de casos, foram 74.042 novos registros. O valor segue acima da média móvel de doentes por dia, calculado em sete dias, que está em 70.237. Desde o dia 9 de julho, os indicadores apontam para um crescimento acelerado do ritmo da pandemia no Brasil. Ontem (17) foi o dia com maior número de notificações de novos casos desde 25 de março, quando o país vivia seu pior momento do surto até então.

Números da covid-19 no Brasil. Fonte: Conass

Os registros de infectados seguem em patamares elevados, próximos aos de março. Como a doença tende a se manifestar de forma mais agressiva e letal após duas semanas de contaminação, em média, o esperado é uma escalada do número de mortes nos próximos dias. Especialistas apontam para o descontrole da transmissão da covid no Brasil, que ruma para uma “terceira onda”, sem sequer ter deixado a segunda.

Curvas epidemiológicas médias de casos e mortes no Brasil. Fonte: Conass

Copa América

Enquanto isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para os perigos de uma variante detectada em circulação intensa na América do Sul. Ela é chamada de “lambda”, ou “variante andina” e, até aqui, é predominante no Peru, país com maior taxa relativa de mortalidade por covid-19 no mundo. Na terça-feira (15), a OMS apontou para possível “aumento potencial de transmissibilidade” e “resistência a anticorpos neutralizantes” relacionados a essa nova cepa. A informação chega no momento em que o Brasil sedia a Copa América. O torneio continental de futebol trouxe ao país atletas e delegações de outras nove nações sul-americanas.

Também hoje (17), a Conmebol – entidade que organiza as competições de futebol entre clubes e seleções da América do Sul – divulgou um balanço em que aponta para 65 contaminados entre jogadores, membros de comissões técnicas, jornalistas estrangeiros e prestadores de serviços envolvidos no torneio.

Cortejo fúnebre

Para o epidemiologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, Jesem Orellana, “o mais sensato seria a suspensão do torneio”. “Se seguir nesse ritmo, nas próximas semanas podemos ter morte por covid-19 (entre participantes da Copa América), nessa legião de casos novos evitáveis. Neste caso, a volta olímpica terá que ser transformada em um cortejo fúnebre, com a CBF, o governo brasileiro e a Conmebol, como patrocinadores desta insanidade sanitária”, completou.

A realização do torneio foi contrária às recomendações da ciência e, inclusive, da OMS. “Como previsto, a Copa América serve como instrumento de disseminação viral, com direito a recorde de casos novos de covid-19 no Brasil ontem”, completou Jesem.

Desinformação

Jesem participou ontem de uma live sobre informação e pandemia voltada a educadores e estudantes, intitulada “Educação Midiática: Comunicação em defesa da vida, pandemia, mídias sociais e cidadania”, promovida por professores de ensino médio. Ele ressaltou o cenário lamentável da covid-19 no Brasil, inclusive com eventos como a Copa América que não deveriam acontecer, e como a desinformação faz parte deste contexto.

“Acabamos vendo muitas coisas desagradáveis durante a pandemia. Em menos de um ano e meio, o presidente Bolsonaro soltou, acredite se quiser, aproximadamente 2,5 mil fake news (…) Nesse momento pandêmico, quando as coisas mudam muito rápido, com uma doença nova, emergente, temos um terreno fértil para esse tipo de canalhice. Cafajestes, pessoas que se beneficiam de cargos e acabam fazendo um trabalho de disseminação de fake news neste momento delicado”, criticou.

A jornalista e professora da rede municipal de Guararema, cidade da Grande São Paulo, Sueller Costa, também apontou para a importância da reflexão sobre a desinformação, especialmente em tempos de tragédia sanitária. Ela foi contemplada no ano passado com o prêmio Destaque Educação, do Educa Week, por seu trabalho junto aos alunos para esclarecimentos sobre a covid-19. “Nessa era da desinformação, precisamos todos termos um senso investigativo”, disse.

Jesem completou o pensamento de Sueller, no sentido de que é necessário redobrar os cuidados com a informação recebida durante a pandemia. “Nós, cientistas, pesquisadores, professores, às vezes também acabamos sendo enganados pela euforia, pela vontade de encontrar soluções para problemas. Aí mora o perigo. Precisamos de medicamentos para tratar da covid e não temos. Então, aparece uma fake news falando que a cloroquina e a ivermectina vão prevenir ou tratar a covid-19. Eu, no fundo do meu coração, pensaria ser uma notícia maravilhosa. Então, as pessoas, no entusiasmo, acabam passando (a informação falsa) sem querer”.


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