Imunização capenga

Início da vacinação deve deixar de fora maioria dos profissionais da saúde

Plano inicial do ministro Pazuello prevê 8 milhões de doses para imunizar idosos, indígenas e profissionais da saúde. Mas só essa categoria demandaria 10 milhões de doses

Clovis Prates/HCPA
Clovis Prates/HCPA
Com piso salarial aprovao no Congresso Nacional e sancionado há quase 1 ano, profissionais aguardam o pagamento

São Paulo – A maioria dos profissionais da saúde do país não deverá ser contemplada tão cedo pela vacinação contra a covid-19. A imunização começou nesta segunda-feira (18). Mas as 8 milhões de doses anunciadas pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello devem ser aplicadas também em idosos e indígenas aldeados. E estão muito longe de atender a real necessidade. Para imunizar apenas o conjunto da categoria, que se expõe na linha de frente da prevenção e de combate à doença, seriam necessárias pelo menos 10 milhões de doses.

A estimativa de que haja 5 milhões de trabalhadores da saúde no país é da Rede de Pesquisa Solidária. A organização mobiliza mais de 100 pesquisadores no Brasil e no exterior, nas áreas científicas e de saúde entre outras. São profissionais que atuam para aperfeiçoar a qualidade das políticas públicas dos governos federal, estaduais e municipais no combate à covid-19.

Para chegar ao dado, considerado aproximado e conservador pela rede, os pesquisadores consultaram diferente fontes. E depararam com limitações em informações baseadas em vínculos formais de trabalho ou registros em conselhos profissionais. A conclusão é que esses parâmetros são insuficientes para o dimensionamento da vacinação e da definição de elegibilidade de profissionais da saúde a serem vacinados.

Profissionais da saúde excluídos

Juntos, o Sistema de Contas Nacionais do IBGE e a Relação Anual de Informações Sociais (Rais) estimaram em 5.642.574 os profissionais em 2019. Mas não entram na conta trabalhadores com vínculos informais ou precários. E a Rais exclui os que atuam na saúde mas são classificados em outros ramos de atividade.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, estimou em 2019 um contingente de 4.754.000 trabalhadores. O indicador, porém, exclui pessoas que atuam na saúde (atividades-meio, terceirizados) mas que reportaram à pesquisa outra ocupação ou mesmo empresa em que trabalham.

Dados dos conselhos profissionais relativos a 2020/2021 indicam 4.411.798. Esse banco de dados não considera trabalhadores da saúde que não são registrados em conselhos profissionais. E exclui ainda profissionais de nível superior, como psicólogos e assistentes sociais, que não informem dados.

E o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) aponta 3.225.652 referentes a 2021. Porém, há trabalhadores do SUS e da rede privada que não são informados por empregadores ao cadastro. E parte dos que têm vínculos informais, autônomos sem relação ao estabelecimentos de saúde, parte dos que trabalham em atividades-meio e de apoio aos serviços de saúde também acabam excluídos.

Vacinação prioritária

São considerados trabalhadores da saúde aqueles que, remunerados ou não, têm potencial de exposição direta ou indireta a pessoas infectadas ou a substâncias corporais, insumos, dispositivos, equipamentos, superfícies ou ar contaminados. Entre eles, estão os médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde de formação superior. Além deles, agentes comunitários, prestadores de atendimento domiciliar, cuidadores de idosos, doulas, parteiras, funcionários e voluntários de organizações não governamentais e de equipamentos de assistência social que assistem doentes e populações vulneráveis à covid-19.

Assim, a rede defende prioridade na aplicação da duas doses da vacina não apenas nos profissionais que atuam em hospitais, seja nas UTIs, atendimento de urgência e triagem de pacientes. Mas também nos trabalhadores de ambulatórios, da vigilância em saúde, dos cuidados de longa duração, os que dispensam medicamentos, acompanham pacientes idosos e doentes crônicos, os que trabalham em consultórios médicos, clínicas, laboratórios, serviços de reabilitação, centros de diálise, hemocentros, ambulâncias e unidades móveis, além dos profissionais recrutados para postos ampliados de vacinação.

“É preciso preservar a capacidade do sistema de saúde durante a pandemia. Além do risco aumentado de exposição ao contágio pelo novo coronavírus, podem transmitir o vírus a outros profissionais e a pacientes suscetíveis”, diz trecho do boletim lançado esta semana.

Não há informações oficiais sobre mortes entre todos os profissionais da área. Mas a estimativa é de que o número seja alto entre médicos e pessoal de apoio. O Conselho Federal de Enfermagem registrou 500 mortes pela exposição ao novo coronavírus no ambiente de trabalho desde o início da pandemia, em março do ano passado. Entre eles, enfermeiros, técnicos, auxiliares de enfermagem e obstetrizes