Gestão de mentiras

Para ex-ministros, testes de coronavírus prometidos por Nelson Teich são ‘ilusão’

Governo Bolsonaro, que não garante proteção aos profissionais de saúde e falha na gestão da grave crise sanitária do país, agora promete metas impossíveis de cumprir

Jefferson Rudy/J. Grande Bahia| Marcello Casal/ABr | Câmara dos Deputados
Jefferson Rudy/J. Grande Bahia| Marcello Casal/ABr | Câmara dos Deputados
Onde o governo vai comprar testes? De onde surgiu meta de 46 milhões e que insumos serão usados se produzidos no Brasil?, questionam ex-ministros

São Paulo – A promessa feita pelo ministro da Saúde, Nelson Teich, de adquirir 46 milhões de testes para o novo coronavírus é quase impossível de ser cumprida. A avaliação é dos ex-ministros da Humberto Costa e Alexandre Padilha. Ambos consideram que a ausência de planejamento e de orçamento por parte do governo Bolsonaro tornam a promessa, feita no início da semana, uma “ilusão”.

A ampliação dos testes para coronavírus é uma orientação global da Organização Mundial de Saúde (OMS). O Brasil, porém, é o país que menos testagens realiza entre os 15 com maior número de casos – segundo a fundação Johns Hopkins, referência mundial para informações sobre a epidemia, estamos em 11º em número de casos, apesar da subnotificação admitida pelo próprio governo.

Desde o início da pandemia, segundo Padilha, o país não conseguiu completar 300 mil testes. A meta anterior, da gestão de Luiz Henrique Mandetta, também sem prazo para ser alcançada, era de 24 milhões de testes. E até a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), um dos principais centros de excelência em pesquisa do setor, prevê conseguir disponibilizar 11 milhões de testes de coronavírus somente em setembro.

Teich decidiu dobrar a meta sem oferecer condições de a realizar. O ministro empossado na semana passada incomoda seus antecessores por ter como preocupação principal não o aprimoramento dos diagnósticos para dimensionar as necessidades de medidas de proteção, mas tentar atender ao interesse do presidente Jair Bolsonaro – acabar com as medidas de isolamento social para evitar prejuízos à economia.

Daqui a 17 anos

Alexandre Padilha (PT-SP), que é infectologista e deputado federal (PT-SP), observa que a promessa do atual ministro da Saúde é 10 vezes superior ao que os Estados Unidos fizeram até agora – “pouco mais de 4 milhões de testes”. E avalia que a inexperiência de Teich pode tornar a crise ainda mais grave. “Ou o novo ministro da Saúde não conhece nada do que está se fazendo no mundo e no Brasil para o enfrentamento da covid-19, ou ele está adotando a tática de espalhar fake news com números fora da realidade e superestimados”, afirma.

“No ritmo atual, o governo levaria 17 anos para testar os 25% da população como Teich propõe”, calcula Humberto Costa, também médico e senador (PT-PE). “Faltam transparência e informação técnica. Onde o governo vai comprar esses testes? De onde surgiu essa meta de 46 milhões e que insumos serão usados se forem produzidos no Brasil?”, questiona o parlamentar. Nesta quarta-feira (22), o Brasil atingiu 44 mil casos confirmados e passou a casa de 2.800 mortos.

Padilha observa que o governo Bolsonaro não foi sequer capaz de garantir equipamentos de proteção aos profissionais de saúde e falha gravemente na gestão da ameaçadora crise sanitária do país. “Milhares de brasileiros estão nas filas de UTI e cada vez mais cresce o número de prefeitos e governadores que reclamam da falta de recursos e equipamentos do governo federal para reforçar o Sistema Único de Saúde.   

Humberto Costa diz que cinco dias depois de ter tomado posse Nelson Teich até agora não disse a que veio nem expôs como vai lidar com a pandemia ou que providências estão sendo adotadas para evitar o colapso do sistema público de saúde. “O ministro é omisso, já não publica balanços da pandemia no Brasil, e não opina sobre as propostas de relaxamento do isolamento social.”


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