Odebrecht participa

Alckmin exclui cientistas de Conselho Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação

Burocrático, colegiado anunciado pelo governador paulista é formado por secretários de estado, reitores, dirigentes de instituições de pesquisa e grandes empresários. Quem produz ciência ficou de fora

Marcos Santos/USP

Para pesquisadores, perfil elitista do conselho deve manter ciência longe da maioria da população

São Paulo – Geraldo Alckmin (PSDB) instalou ontem (13) o Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia (Concite). Presidido pelo próprio governador de São Paulo, o colegiado tem 20 cadeiras, ocupadas por secretários das pastas de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, Saúde, Agricultura e Abastecimento e Meio Ambiente, os reitores das três universidades estaduais paulistas, o presidente da Fundação de Apoio à pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o diretor superintendente do Centro Paula Souza, representantes de três institutos estaduais de pesquisa  e outros oito membros escolhidos pelo governador. Desses, cinco são empresários: Benjamin Sicsu, da Samsung; Frederico Fleury Curado, da Embraer; Laercio Cosentino, da Totvs; Marcelo Odebrecht, da construtora de mesmo nome; e Pedro Wongtschowski, do Grupo Ultra.

Líder no mercado global de alta tecnologia e mídias digitais, a Samsung concentra mais do que celulares: produz tecnologia de ponta para diversos setores, como construção civil, petroquímica, moda, medicina, finanças e hotelaria, entre outros.

A Totvs (todos, “tudo” em latim) é uma empresa de software, serviços e tecnologia líder no Brasil, com 55,4% de participação de mercado e também na América Latina, com 35%. É a maior fabricante de softwares aplicativos sediada em países emergentes e a sexta maior do mundo. Atua ainda em setores como agroindústria, construção e projetos, distribuição e logística, educacional, financeiro e saúde, entre outros.

O Grupo Ultra é um dos maiores grupos empresariais brasileiros, com unidades industriais nos Estados Unidos, no Uruguai, no México e na Venezuela e escritórios comerciais na Argentina, Bélgica, China e  Colômbia, e que atua no setor de distribuição de combustíveis (Ipiranga e Ultragaz), na indústria de especialidades químicas (Oxiteno), armazenagem para granéis líquidos (Ultracargo).

Mais conhecida do público, a Odebrecht é uma organização brasileira que atua em engenharia e construção, investimentos e infraestrutura e energia e indústria, entre outros setores. A Embraer, que já foi empresa pública, é uma das maiores do setor aeroespacial no mundo.

De acordo com a Agência Fapesp, o Concite vai articular programas e ações de P&D científico e tecnológico previstos no Plano Plurianual, nas leis de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Orçamentária Anual (LOA); promover a cooperação com governo federal e participar de um levantamento detalhado das atividades relacionadas à Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I) e à Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) implementadas por instituições públicas e privadas para identificar pontos críticos e gargalos do sistema, bem como subsidiar a elaboração do Plano de C,T&I. Além disso, vai aprovar e acompanhar o Plano de C,T&I quanto a recursos públicos estaduais e federais, e privados.

Na avaliação do diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Pesquisa, Ciência e Tecnologia de São Paulo e na região de Campinas (Sintpq) Paulo Porsani, a exemplo de Conselho Estadual de Educação, formado basicamente por acadêmicos e empresários do ensino privado, o Concite tem um perfil conservador, acadêmico e empresarial. “Não questiono a participação da Odebrecht e de outras grandes empresas, e sim a falta de representantes de outros setores da sociedade, como pesquisadores que na prática são os que produzem ciência, tecnologia e inovação, os pós-graduandos e trabalhadores. Com esse perfil, não creio que o colegiado venha a trabalhar pela inclusão social a partir da ciência, mas sim pela continuidade de uma ciência elitista.”

O dirigente criticou ainda a falta de debate durante o processo de constituição do conselho. “Não fomos sequer chamados para conversar, ao contrário do que acontece em Campinas. Aqui está sendo criado um conselho municipal e o sindicato foi convidado a participar das discussões. Mesmo que o espaço seja pequeno, teremos oportunidade de participar”, disse Porsani.

Integrante do Conselho Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação de São Paulo e pesquisadora do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT) Ros Mari Zenha também criticou a falta de maior representação de trabalhadores e pesquisadores, bem como da participação das micro e pequenas empresas. “São as mais empregam no país e que mais demandam inovação tecnológica.”

Presidido por Alckmin, o Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia é composto ainda por Rodrigo Garcia (secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia), David Everson Uip (secretário da Saúde), Mônika Bergamaschi (secretária de Agricultura e Abastecimento), Bruno Covas (secretário estadual do Meio Ambiente), João Grandino Rodas (reitor da USP), José Tadeu Jorge (reitor da Unicamp), Julio Cesar Durigan (reitor da Unesp), Laura Laganá (diretora superintendente do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza), Celso Lafer (presidente da Fapesp), Luiz Madi (presidente do Instituto de Tecnologia de Alimentos – Ital), Jorge Kalil (presidente do Instituto Butantan), José Carlos Bressiani (presidente do Instituto de Pesquisa Energéticas e Nucleares – Ipen), Carlos Henrique de Brito Cruz (professor da Unicamp), Glauco Arbix (presidente da Agência Brasileira de Inovação – Finep) e José Goldemberg (que ocupou secretarias e ministérios em governos tucanos).

Com informações da Agência Fapesp


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