O emprego se segura

A economia cresce menos, mas o mercado de trabalho (ainda) abre vagas. 'Faltam políticas que incorporem os novos setores, os mais importantes da indústria moderna', alerta Belluzzo

O ano começou com previsões otimistas, mas as projeções – do governo e do setor privado – não se confirmaram. A economia perdeu força, alguns setores patinaram, especialmente a indústria, e todas as estimativas para o crescimento recuaram de mais de 4% para menos de 2%. Com o Brasil caminhando para o segundo ano seguido de PIB fraco, era de esperar que o mercado de trabalho sentisse os efeitos e despejasse mão de obra na rua. 

“É preciso tomar muito cuidado com o que se está fazendo com o processo educacional, no mundo inteiro. Dá-se uma boa educação técnica boa, mas do ponto de vista da compreensão do mundo pela sociedade esse sistema deseduca.” Leia entrevista Luiz Gonzaga Belluzo (Fotos: Gerardo Lazzari/RBA)

Mas, ainda que em ritmo menos intenso, os empregos continuam sendo criados e as taxas de desemprego seguem moderadas.O diretor do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), José Dari Krein, observa que não houve demissões em massa como chegou a acontecer durante a crise de 2008. “Na perspectiva de uma crise prolongada, exageraram na dose e tiveram custos para recontratar. Agora, a estratégia das empresas foi segurar os empregos na perspectiva de recuperação”, analisa.

Grágico desempregoKrein enumera outras possibilidades para a manutenção do emprego em níveis razoáveis, como menor pressão demográfica, as políticas de reativação da economia e uma taxa de câmbio menos desfavorável. Mas detecta também algumas incertezas à frente. A indústria, por exemplo, tende a absorver cada vez menos mão de obra, comprometendo seu poder multiplicador no mercado.

Gráfico empregoO economista Luiz Gonzaga Belluzzo vê na indústria um problema de implementação de iniciativas que acompanhem as transformações no setor. “Estamos perdendo setores e não temos realizado políticas que incorporem os novos, que são os mais importantes da indústria moderna”, observa Belluzzo (Leia entrevista abaixo).

Sinais no horizonte

Avaliação semelhante tem o coordenador de análise da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), de São Paulo, Alexandre Loloian. Para ele, o comportamento bárbaro de outros momentos ficou para trás. “As empresas, aparentemente, não estão demitindo ao primeiro sinal de fraqueza do mercado”, afirma.

Para Loloian, os empregadores podem estar vendo sinais de recuperação no horizonte. E não se pode desprezar dados como expansão em 12 meses de 2,6% na ocupação e de 3,1% na população economicamente ativa, na região metropolitana de São Paulo, em uma economia que não deve crescer 2% este ano.

Assim como se deve ressaltar que a taxa média de desemprego, calculada pelo IBGE em seis regiões metropolitanas, tem se mantido entre 5% e 6%. E caminha para fechar o ano com o menor resultado da série histórica, iniciada em 2003. Na zona do euro, por exemplo, vai a 11%, atingindo 25% na Espanha. A recém-divulgada Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) também mostrou recuo na taxa de desemprego, de 8,2% em 2009 para 6,7% na média de 2011.

O mercado formal de trabalho causou surpresa ainda a alguns observadores. Mesmo com a economia em ritmo menor (de 7,5% em 2010 para atuais 2,7%), foram criados 2,2 milhões de empregos no ano passado. E mais 1,4 milhão até agosto deste ano. Belluzzo considera que uma reacomodação no mercado – criação de empregos com melhor nível de renda –, ajudou a manter a economia, mas mostra preocupação com a capacidade do país de seguir em bom ritmo. Para ele, o Brasil precisa abrir novo espaço de crescimento e incorporar novos consumidores, “porque não dá para continuar mantendo esse ciclo em cima de consumidores já endividados”.

A ocupação cresce em menor intensidade. No caso do emprego formal, a expansão foi de 7% em 2010 e de 5% no ano passado. E bastante sustentada pelo setor de serviços, responsável por mais de 45% das vagas abertas.

O Brasil teve um período claro de crescimento e de redução da desigualdade nos últimos anos, que se refletiu no mercado de trabalho. De 1985 a 2002, o país criou 8,2 milhões de empregos formais, enquanto no período de 2003 a 2011 foram abertos 16,8 milhões de vagas. Ou seja, num intervalo de tempo de nove anos, o emprego aumentou duas vezes mais que nos 18 anos anteriores. Mas, daqui em diante, será preciso buscar novos caminhos para sustentar a expansão do emprego – e, em última análise, da própria economia.
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Entrevista com Luiz Gonzaga BelluzzoLuiz Gonzaga Belluzzo

Para o economista e professor Luiz Gonzaga Belluzzo, 70 anos completados em outubro, a situação difícil vivida por vários países vem lá de trás, com um desmonte da base social construída nos anos 1960 e 1970.
O resultado são três décadas de estagnação salarial, descrédito com o sistema político e, mais grave, a perda da esperança. “Não estou vendo forças sociais capazes de enfrentar essa situação”, diz Belluzzo, que se mostra um pouco mais animado com o Brasil, desde que o país aprofunde as medidas de combate à desigualdade e busque novos caminhos para o crescimento. 
Em entrevista exclusiva  à Revista do Brasil, ele comenta também a concentração nos meios de comunicação e a preocupação com a forma como o julgamentro do mensalão vem sendo abordado pela mídia e pelo STF. 
A íntegra pode ler lida aqui.