O pecado mora na estante

Novo CD de Céu, bastidores da Semana de 1922 em livro de Marcos Augusto Gonçalves, DVD de o Cangaceiro, de Lima Barreto, e site em homenagem a Caio Fernando Abreu

Ela chegara ao cinema depois de ter sido descoberta seis anos antes, em Los Angeles, pelo fotógrafo Davis Conover. Sua graça natural e sensualidade inata já corriam o mundo, mas foi num filme de suspense, Almas Desesperadas, de Roy Ward Baker, sua estreia num papel principal. 

Marilyn Monroe já havia participado de duas dezenas de filmes, em 1952, quando viveu pela primeira vez seu momento de protagonista

A aura de inocência e o olhar ingênuo e arrebatador a fazer de Marilyn ingrediente clássico para as comédias românticas seriam novamente desafiados naquele mesmo ano, em Torrentes de Paixão. Dessa vez dirigida pelo já consagrado Henry Hathaway, faz aflorar uma loura má – deve ter aprendido com Bette Davis, quando figurou em A Malvada (1950) – que seduz o amante a dar um fim no marido. A jovem Norma Jeane Mortensen estava, enfim, pronta e plena para o cinema.

Um pouco de tudo que foi Marilyn Monroe – morta há 50 anos – está presente na coleção recém-lançada pela 20th Century Fox. São 12 dos seus 30 trabalhos no cinema, com mais de 1.500 minutos de filmes, curiosidades e outros extras, além de O Fim dos Dias, projeto inacabado da atriz, recriado por meio de entrevistas e arquivos. A coleção permite conferir a versatilidade da deusa em dramas, comédias, musicais, westerns e thrillers. Traz, de quebra, oportunidades de rever os mais distintos mestres, como Billy Wilder, John Huston, Otto Preminger e Howard Hawks, além de outros mitos do olimpo hollywoodiano, como Ane Bancroft, Jane Russel, Lauren Bacall, Clark Gable, Jack Lemmon, Tony Curtis, Robert Mitchum. Assim como as grandes entrevistas da Playboy valem uma olhadela na revista, lançada em 1953 com Marilyn na capa, o desejo de ter na estante esse rico acervo da história do cinema justifica o investimento nos dois volumes (R$ 90 cada caixa).

Mais Marilyn

Agora em março, há outras duas oportunidades de revisitar o legado da diva. O circuito comercial exibe Sete Dias com Marilyn, que rendeu a Michele Willians a indicação ao Oscar de melhor atriz e ao veterano Kenneth Branagh a indicação para melhor coadjuvante. Conta a história do romance entre Colin Clark, jovem assistente do cineasta Lawrence Olivier, e a mulher mais cobiçada do planeta. 

Em São Paulo, a mostra Quero Ser Marilyn Monroe apresenta filmes e mais de uma centena de objetos de artistas como Andy Warhol, Henri Cartier-Bresson, Peter Blake, Cecil Beaton, retratando a carreira da estrela. Na Cinemateca Brasileira. De segunda a domingo, das 10h às 21h. Largo Senador Raul Cardoso, 207, na Vila Clementino. 

Até 1º de abril. www.marilynmonroe.com.br.

Paulo Donizetti de Souza

 

Road disco

CD da CéuO terceiro álbum de estúdio da cantora Céu, Caravana Sereia Bloom, traz sua fascinação pelo pé na estrada e pelas aventuras das viagens. Releitura cool de um baile da saudade, o CD com 13 faixas tem músicas românticas, de dor de cotovelo, como Retrovisor; ritmo latino (Contravento), iê-iê-iê pop (Amor de Antigos), toque brega (Baile da Ilusão) e pitada reggae (Asfalto e Sal). Em Palhaço, de Nelson Cavaquinho, Céu é acompanhada pelo pai, Edgard Poças, no violão e assovio. R$ 26.

1922 passo a passo

Semana de 22

Passaram-se 90 anos desde aquele 13 de fevereiro em que diversos artistas se manifestaram, no Teatro Municipal de São Paulo, pela modernização da arte e contra o conservadorismo. Em 1922 – A Semana Que Não Terminou (Cia. das Letras, 376 pág.), o jornalista Marcos Augusto Gonçalves descreve o que desencadeou o movimento e o passo a passo do evento, desmitifica a Semana de Arte Moderna de 1922 e explica a antropofagia. Com muitas fotos e reproduções. R$ 49 (impresso) R$ 34 (eletrônico).

Sertão de Lima Barreto

O filme O Cangaceiro, de Lima Barreto, foi restaurado e relançado em edição especial com DVD duplo pela Versátil Filmes. Premiada em Cannes em 1953, a obra foi exibida em mais de 80 países. Conta a história do bando do capitão Galdino, que saqueia um vilarejo, persegue mulheres e rapta uma professora. A refém desperta paixão e discórdia no grupo. Um DVD tem curtas-metragens raros de Barreto e o outro, uma versão inédita do documentário O Velho Guerreiro Não Morrerá – O Cangaceiro de Lima Barreto 50 Anos Depois (2011), dirigido por Paulo Duarte. R$ 49,90. 

Um site para Caio 

Manuscritos, fotos, textos publicados em jornais e revistas, trabalhos acadêmicos e mostras de obras do escritor e jornalista Caio Fernando Abreu estão reunidos no site que leva seu nome, lançado no mês passado. Caio, morto em 1996 aos 46 anos, fez a cabeça de grande parte da geração dos anos 1980. Sua obra mais conhecida, o livro de contos Morangos Mofados, completa 30 anos em 2012. O site foi uma alternativa ao desejo frustrado de fazer de sua casa em Porto Alegre – que acabou vendida – uma espécie de memorial sobre sua vida e sua obra. www.caiofernandoabreu.com