Modus operandi

Walter Delgatti, o ‘hacker de Araraquara’, confirma pagamentos de Zambelli

O hacker Walter Delgatti, preso por invadir sistema do Conselho Nacional de Justiça, confirma pagamentos da bolsonarista Carla Zambelli na tentativa de fraudar a Justiça

Reprodução/TV Câmara
Reprodução/TV Câmara
"Ele trouxe provas de valores da deputada", disse o advogado do hacker

São Paulo – Walter Delgatti, o “hacker de Araraquara”, depôs hoje (16) na Polícia Federal em Brasília. Ele está preso desde janeiro, sob suspeita invasão aos sistemas eletrônicos do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A ação teria sido a mando da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). De acordo com a defesa de Delgatti, a bolsonarista o contratou para invadir sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), incluindo contas pessoais do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

“As perguntas feitas para o Walter eram complementos ao depoimento do mês passado. Apresentou uma conversa com uma pessoa envolvida e indicou outras pessoas que ele falava envolvidas com os pagamentos de Zembelli. Ele trouxe provas de valores da deputada”, disse o advogado do hacker, Ariovaldo Moreira, ao fim do depoimento.

Ainda de acordo com Moreira, Delgatti apresentou uma série de provas de que recebeu R$ 40 mil da deputada Carla Zambelli para invadir qualquer sistema do Poder Judiciário. Ele disse que a oitiva de hoje foi um complemento do depoimento que o hacker deu quando preso em São Paulo. Foram 14 mil reais por meio de transferência bancária e o restante em espécie. O pagamento teria sido para que Delgatti invadisse qualquer sistema da Justiça.

Havia a expectativa de que ele mantivesse o silêncio hoje. Contudo, falou sobre o caso aos investigadores. O hacker prestará novo depoimento amanhã (17) junto à CPMI do 8 de janeiro, que investiga a tentativa frustrada de golpe de Estado de bolsonaristas. Moreira se calou sobre a possibilidade de seu cliente permanecer em silêncio durante o depoimento. Tramita no STF um pedido da defesa, um habeas corpus, para que ele possa se eximir de dar explicações.

O caso

Em seu primeiro testemunho, Delgatti confessou ter penetrado no sistema do CNJ e em tribunais regionais de justiça, onde inseriu um mandado de prisão falso para o ministro Alexandre de Moraes, além de ao menos 11 ordens de soltura para detentos.

Delgatti alega que suas ações foram a pedido da deputada Carla Zambelli, visando minar a credibilidade do Poder Judiciário. Contudo, a deputada nega ter solicitado ou remunerado o hacker por essas ações.

No mesmo dia em que agentes federais realizaram buscas em sua residência e escritório para obter documentos pertinentes à investigação, Zambelli convocou a imprensa para esclarecer sua ligação com Delgatti. Ela admitiu ter pago R$ 3 mil ao hacker para aprimorar seu site e suas redes sociais.

Aos jornalistas, Zambelli disse que conheceu Delgatti ao sair de um hotel e confirmou ter apresentado o hacker ao presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, e ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Zambelli relatou que Delgatti expressou interesse em oferecer seus serviços à legenda para auxiliar em uma possível auditoria das urnas eletrônicas. Entretanto, Zambelli afirmou que esse acordo não se concretizou.

Sobre o encontro com Bolsonaro, a deputada disse que o ex-presidente buscava apenas obter opiniões sobre a segurança das urnas eletrônicas devido à expertise de Delgatti em tecnologia da informação. “É provável que o presidente tenha tido hesitações quanto a contratar alguém dessa natureza”, conjecturou a parlamentar, acrescentando que não houve mais comunicação entre Bolsonaro e Delgatti após esse encontro.


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