Azedou

Irritado com fala de Haddad, Lira adia discussão sobre arcabouço para semana que vem

Para analista político Antônio Augusto de Queiroz, ministro da Fazenda não devia ter criticado a Câmara publicamente e Lula está demorando muito para concluir minirreforma ministerial

Marcelo Camargo/AgenciaBrasil
Marcelo Camargo/AgenciaBrasil
Haddad criticou “o poder muito grande” da Câmara e Lira reagiu: “manifestações enviesadas”

São Paulo – Depois do desentendimento entre o ministro Fernando Haddad (Fazenda) e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ontem, o clima azedo não foi superado nesta terça-feira (15). Pelo contrário. Lira decidiu adiar em uma semana a reunião de líderes partidários, técnicos e o relator do projeto do novo arcabouço fiscal, deputado Cláudio Cajado (PP-BA), que seria realizada ontem, mas foi desmarcada e hoje anunciada para a semana que vem.

Após reunião de líderes no início da tarde, Cajado declarou que o debate sobre as mudanças feitas pelo Senado no texto do marco fiscal será a próxima segunda-feira (21), às 19h. Segundo o relator, o projeto pode ser votado até o final de agosto.

“Não existe compromisso de calendário. Feita reunião na segunda feira, vamos consensualizar o texto, e a partir daí a pauta de quando entrará em votação no plenário será definida pelo colégio de líderes e o presidente”, disse Cajado, homem de confiança de Lira.

Em entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, que foi ao ar ainda ontem, Haddad disse que a Câmara dos Deputados “está com poder muito grande e não pode usar esse poder para humilhar o Senado e o Executivo”. O ministro continuou: “Passei nove anos em Brasília e nunca vi nada parecido. Tem que haver uma moderação que deve ser construída”.

Fala errada no momento errado

“Ele não devia ter falado isso publicamente num momento em que o governo depende de decisões importantes da Câmara. Os líderes não gostam de ser criticados e reagem”, diz o analista e consultor político Antônio Augusto de Queiroz, o Toninho.

Na opinião do analista, ex-diretor de Documentação do Diap, a fala mal colocada de Haddad se soma à insatisfação entre os congressistas (leia-se Centrão) com a demora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em definir de uma vez por todas as mudanças no ministério.

A oficialização dos deputados federais André Fufuca (PP-AM) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) para duas vagas na Esplanada dos Ministérios é esperada há quase um mês, mas Lula continua adiando. A definição era esperada para esta terça, mas Lula foi ao Paraguai pela manhã, participar da cerimônia de posse de Santiago Peña como novo presidente do país.  

A agenda do presidente marca um encontro com o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, no final da tarde de hoje.

Precisa acelerar

“O presidente já devia ter resolvido essas nomeações do ministério”, opina Queiroz. “A economia pode dar um salto de qualidade a partir da consolidação do arcabouço e da reforma tributária. Se começa a demorar muito, aparecem atritos que atrasam decisões importantes. O orçamento precisa ser encaminhado e não tem nem o arcabouço ainda”, critica.

Na opinião do analista, Arthur Lira poderia eventualmente não tomar uma atitude dura como tomou. “Afinal, tem dialogado com o presidente e o governo. Mas a decisão sobre os ministérios não vem e ainda aparece um ministro falando dos congressistas… Aí ele reage, até porque é cobrado pelo pessoal dentro da Câmara também”, avalia Queiroz.

Além de criticar “o poder muito grande” da Câmara, Haddad classificou como “uma coisa estranhíssima um parlamentarismo sem primeiro-ministro” e questionou os R$ 40 bilhões em emendas parlamentares, que seria equivalente a 0,4% do PIB. “Onde no mundo tem isso?”, continuou.

Reação de Lira

A reação de Lira foi rápida. Ainda ontem, suspendeu imediatamente a reunião de líderes para tratar da tramitação do arcabouço fiscal. Percebendo o erro, Haddad tentou se justificar e disse a jornalistas que suas declarações não “foram tomadas como crítica à atual legislatura”. “Na verdade, eu estava fazendo uma declaração sobre o fim do chamado presidencialismo de coalizão”, afirmou. Acrescentou que defendeu na entrevista a Azevedo que a relação seja “mais harmônica”.

Lira respondeu no Twitter. “A Câmara dos Deputados tem dado sucessivas demonstrações de que é parceira do Brasil, independente do governo de ocasião. Todos os projetos de interesse do país são discutidos e votados com toda seriedade e celeridade”, escreveu. “Manifestações enviesadas e descontextualizadas não contribuem no processo de diálogo e construção de pontes tão necessários para que o país avance!”, concluiu.

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