São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou hoje (19), em entrevista à BBC Brasil, que ainda acredita em uma virada no Senado, na votação do impeachment da presidenta da República, Dilma Rousseff, e que ela vai ao julgamento “para que o Judas Iscariotes possa acusá-la na frente dela”. Para Lula, os 81 senadores têm consciência de que é um golpe a retirada de Dilma do poder sem comprovação de crime. “Eu quero saber como os senadores vão voltar para casa e olhar para suas mulheres, filhos, netos. Eles vão ter que reconhecer que ilegalmente eles afastaram uma pessoa eleita nesse país”, disse.

Para Lula, o Congresso se aproveitou da situação econômica do país e da baixa popularidade da presidenta para golpear a democracia. “Foi um golpe parlamentar. Uma maioria no Senado e uma maioria na Câmara resolveram afastar a presidenta. O que é um absurdo. O presidente interino é constitucionalista. E ele sabe que o que eles estão fazendo é ilegal, porque a Dilma não cometeu crime e segundo porque é um golpe parlamentar”, afirmou sobre Michel Temer.

Sobre as investigações das quais é alvo, Lula afirmou não temer ser preso, porque não “tem uma única prova” contra ele. E que agora, procuradores, delegados e parte da imprensa devem estar em dificuldades para conseguir sustentar as acusações contra ele. Ontem (18), a Polícia Federal indiciou a verdadeira dona do apartamento tríplex no Guarujá, que foi várias vezes atribuído a Lula e sua família.

“As pessoas querem transformar uma mentira que eles inventaram num processo. Estão procurando razões para justificar o processo. Eu estou tranquilo, tenho consciência do meu papel nessa história toda, estou tranquilo porque eles inventaram que eu tenho um apartamento e vão ter que provar que o apartamento é meu, ou me dar um apartamento. A imprensa mentiu muito e não sei se a imprensa vai ter caráter para pedir desculpas. É por isso que eu recorri a uma instância das Nações Unidas para ver se existe pelo menos um comportamento exemplar de uma Justiça a serviço da justiça”, afirmou.

Lula disse ainda estar confiante que, apesar do todas as acusações contra ele e o PT, o partido saíra fortalecido quando a eleição de 2018 realmente começar. “Tenho clareza de que na hora que a gente começar a debater neste país, que a gente começar a mostrar o que o PT fez neste país, da diferença do governo do PT com os governos do passado, eu tenho certeza que o povo vai se lembrar que o que o PT trouxe em 12 anos de benefício para esse povo, com educação, saúde, trabalho, política agrícola, eles não fizeram em 200 anos.”

Já em relação à crise econômica, Lula disse acreditar ser “muito fácil” o Brasil superá-la. Bastaria, para tanto, ampliar investimento, consumo e produção. “Esse país é muito grande. Não sei se eu sou excessivamente otimista, mas eu sinceramente acho que é muito fácil fazer o Brasil voltar a crescer. É muito fácil. Nós temos um potencial interno muito grande, um mercado interno muito forte e um povo precisando de muita coisa. Portanto, é preciso a gente pensar outra vez que o pobre pode ser a solução do nosso país, e não o problema”, disse.

A íntegra da entrevista pode ser lida aqui.