2º dia da sessão

STF retoma agora cedo julgamento do primeiro réu do 8 de janeiro; Voto será de Zanin

Nesta quarta, primeiro dia de deliberação, o ministro Alexandre de Moraes votou pela condenação, a 17 anos, de Aécio Pereira; Segundo a votar, Nunes Marques abriu divergência e pediu condenação parcial do primeiro réu pelos atos antidemocráticos

Rosinei Coutinho/SCO/STF
Rosinei Coutinho/SCO/STF
Voto de Nunes Marques repercutiu negativamente entre integrantes do STF. A expectativa é a de que permaneça o viés do entendimento do ministro Alexandre de Moraes

São Paulo – O Supremo Tribunal Federal (STF) retoma na manhã desta quinta-feira (14), o julgamento da Ação Penal (AP) 1060 contra Aécio Lúcio Costa Pereira, réu pela tentativa de golpe no dia 8 de janeiro, em Brasília. O primeiro a votar hoje será o ministro Cristiano Zanin em sessão prevista para às 9h30. Até o momento, o julgamento está empatado em 1 a 1 na parte mais importante da discussão, que é o reconhecimento da atuação dos acusados para atentar contra a democracia e derrubar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Ontem (13), o relator, ministro Alexandre de Moraes, deu início ao julgamento, condenando Aécio Pereira a um total de 17 anos e 6 meses de prisão, sendo os primeiros 15 anos em regime fechado. Para o magistrado, a conduta do réu pode ser enquadrada pelos crimes de associação criminosa armada; abolição violenta do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado; dano qualificado pela violência e grave ameaça, com emprego de substância inflamável, contra o patrimônio da União e com considerável prejuízo para a vítima; e deterioração de patrimônio tombado.

O voto de Moraes, considerado muito duro, está de acordo com sua carreira. Ele sempre atuou como promotor e posteriormente como secretário estadual de Segurança em São Paulo. Na leitura de seu voto, o ministro também rebateu a alegação do réu, que afirmava ter pensado que a manifestação seria pacífica. “Por que criminosos que invadem a sede dos três poderes para derrubar o governo eleito se filmam eles mesmos e colocam nas rede sociais? Porque tinham a certeza de que conseguiriam o golpe de Estado. Certeza que haveria adesão das Forças Armadas”, destacou.

O relator também fixou pagamento de 100 dias-multa e danos morais coletivos no valor de R$ 30 milhões.

Nunes Marques abre divergência

Houve, no entanto, divergência sobre a condenação. Segundo a votar, o ministro Nunes Marques, revisor do caso, optou pela absolvição do réu nos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado. As tipificações penais estão previstas desde 2021 em uma legislação aprovada pelo Congresso para proteger a democracia.

Para Nunes Marques, a destruição das sedes dos Três Poderes “em nenhum momento chegou a ameaçar a autoridade dos dignatários de cada um dos Poderes, tampouco o Estado Democrático de Direito, que se encontra há muito consolidado em nosso País, desde a Constituição de 1988”, defendeu.

O revisor acompanhou Moraes pela condenação nos crimes de dano qualificado e deterioração do patrimônio tombado. Com isso, a pena de Aécio Lúcio seria de 2 anos e 6 meses de prisão, em regime inicial aberto. Ou seja, nem cumpriria tempo como detento, na prisão. Nunes votou pelo pagamento de 60 dias-multa e não fixou valor de indenização pelos estragos. O ministro, por outro lado, refutou o argumento da defesa de que o réu teria apenas ido se manifestar pacificamente, em nome da “liberdade”.

Repercussão negativa do voto

Nesse sentido, Nunes Marques acompanhou Moraes e votou pela condenação de Aécio Pereira pelos crimes de dano qualificado e deterioração do patrimônio tombado. A reclusão prevista, neste caso, soma 2 anos e 6 meses de prisão, em regime inicial aberto. O revisor também votou pelo pagamento de 60 dias-multa e não fixou valor de indenização pelos estragos causados pelo apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O voto de Nunes Marques causou repercussão negativa entre os integrantes da Corte. De acordo com informações da Globonews, o entendimento do ministro soou como “uma carta branca” para novas tentativas de intimidar os Poderes constituídos pela violência e pela força.

Expectativa

A expectativa é a de que permaneça o viés do entendimento do ministro Alexandre de Moraes. Nos bastidores, também se especula que os demais integrantes da Corte adotem a chamada dosimetria da pena, para definir qual a punição a ser imposta. A CNN divulgou nesta quinta que os ministros estão defendendo um “meio-termo”. Ou seja, nem os 17 anos do voto de Moraes, nem os de 2 anos e 6 meses de Nunes Marques.

Além de Zanin, faltam os votos de André Mendonça, Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux, Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Gilmar Mendes e da presidente do STF, Rosa Weber. A Ação Penal em discussão também trata dos casos dos réus Thiago de Assis Mathar, Moacir José dos Santos e Mateus Lima de Carvalho Lázaro.

Redação: Clara Assunção