Modus Operandi

Reunião de Dino com ‘integrante do CV’ não é verdade e tenta encobrir desvios de Moro na Lava Jato

Reunião do ministro da Justiça com esposa de integrante de facção criminosa nunca aconteceu, mas serve de cortina de fumaça para fatos que incriminam Moro

Lula Marques / Agência Brasil
Lula Marques / Agência Brasil
O que não é desinformação é a apuração do CNJ que evidencia mais estragos da Lava Jato

São Paulo – Após ser exposto por sumir com bens da Operação Lava Jato, o ex-juiz e senador Sergio Moro (União-PR), articulado com setores da imprensa, aposta na estratégia bolsonarista de fake news. O fato é que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) identificou ausência de controle dos bens apreendidos na operação. A apuração aponta “gestão caótica” de Moro no controle dos valores. Poucos minutos após a divulgação destes fatos, o jornal O Estado de S.Paulo divulgou ataques ao Ministério da Justiça. Em seguida, comentários do senador sobre o caso.

A matéria acusa o ministro Flávio Dino de participar de reunião com “integrante do CV”, em alusão ao Comando Vermelho, facção criminosa fluminense. Contudo, a realidade não demorou para vir à tona. Primeiramente, a reportagem com as ilações afirma que houve reunião entre Dino e Janira Rocha, supostamente esposa de um líder da facção. Contudo, a reunião nunca aconteceu. “Nunca recebi, em audiência no Ministério da Justiça, líder de facção criminosa, ou esposa, ou parente, ou vizinho”, disse Dino.

Aos fatos

“De modo absurdo, simplesmente inventam a minha presença em uma audiência que não se realizou em meu gabinete (…) Não é o que estão dizendo por conta de vil politicagem”, completou o ministro.

O que, de fato, aconteceu, foi uma audiência entre o secretário de Assuntos Legislativos no Ministério da Justiça e Segurança Pública, Elias Vaz, e representantes de parentes de presos. Trata-se de uma rotina da pasta, que controla a gestão das políticas prisionais. Janira é ex-deputada estadual do Rio de Janeiro e vice-presidente da Comissão de Assuntos Penitenciários da Associação Nacional da Advocacia Criminal (Anacrim) no Rio de Janeiro.

“Na reunião, realizada no dia 16 de março, a Sra. Janira Rocha veio acompanhada das senhoras Ana Lúcia, mãe do jovem Lucas Vinícius, morto em 2022. E também de Luana Lima, mãe de Lara Maria Nascimento, morta em 2022; e de Luciane Farias, do estado do Amazonas. Durante a audiência, das mães Ana Lúcia e Luana Lima, escutei reivindicações pedindo celeridade nas investigações sobre a morte dos filhos”, explica Vaz.

Ele explicou ainda que ouviu reivindicações e indicou que as mulheres procurassem a Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen). “Na ocasião, recebi os documentos anexos, nenhum tratando de casos ocorridos no estado do Amazonas. Quanto à Sra. Luciane, ela estava como acompanhante da advogada Janira Rocha, e se limitou a falar sobre supostas irregularidades no sistema penitenciário”, acrescentou.

Cortina de fumaça e Moro

Estranhamente, a notícia enganosa, comentada por Moro, que disse que “o crime se sente bem no governo Lula”, surgiu pouco tempo após escândalo real que envolve o bolsonarista. Reportagem do jornalista Lauro Jardim, do jornal O Globo, antecipou a apuração do CNJ poucos minutos antes das 6h de ontem (12). Então, hoje, às 13h34, o Estadão veio com a suposta “bomba”.

Contudo, o que não é desinformação é a apuração do CNJ que evidencia mais estragos da Lava Jato, incluindo um desgaste do Judiciário diante de seu papel fundamental na sociedade. O estudo do CNJ encontra eco em apuração do Tribunal de Contas da União (TCU). Em setembro, o ministro Bruno Dantas chegou à mesma conclusão. “O que está acontecendo é a transferência de patrimônio do Estado brasileiro para a gestão de agentes da lei. É disso que nós estamos tratando”, disse.

Em resposta, Moro disse ser alvo de perseguição. “O que vemos é a corregedoria do CNJ atuando de uma maneira bastante discutível. Isso é plantação de notícias na imprensa”, disse, ao acusar a imprensa de atuar exatamente da forma oposta da realidade. Ele concluiu, em entrevista à Jovem Pan, ao afirmar que “há clima de perseguição no Judiciário”.