Petrobras

Deputados esperam redução de desgaste após renúncia na Petrobras

Petistas defendem Graça Foster, mas deixam escapar incômodo por sua saída não ter acontecido antes. Oposicionistas lembram depoimentos da dirigente à CPI

Brasília – Foi um dia particularmente complicado para o governo. A renúncia da presidenta da Petrobras, Graça Foster, com mais cinco diretores, repercutiu também no mercado internacional, pela forte presença da estatal brasileira. Na Câmara, deputados da base aliada tentaram sustentar que haverá mais “equilíbrio” na empresa daqui em diante. Mas a confusão foi grande, porque a divulgação da notícia ocorreu em meio a diversas reuniões partidárias e atos de entidades da sociedade civil programados para hoje (4) no Congresso. Houve atrasos, adiamento de pautas e muitas repercussões que soaram como uma espécie de “saia-justa” para políticos que terminaram deixando escapar o chamado “fogo amigo”.

Assim que foi confirmada a renúncia – quando começou a insistência dos jornalistas para conversar com parlamentares do PT –, os deputados da legenda estavam reunidos a portas fechadas para definir oficialmente o nome do seu novo líder na Casa, em encontro que ratificou Sibá Machado (PT-AC) no cargo. Coube a ele, que mal tinha assumido a liderança, e ao presidente nacional do PT, Rui Falcão, a missão de falar sobre o assunto em nome dos petistas.

Para Sibá Machado, ainda em tom atordoado, pelas poucas informações que os deputados tinham recebido, a renúncia se tratou de uma atitude “de ordem estritamente pessoal”, por isso não havia muito o que falar a respeito. Ele defendeu o governo diante de acusações feitas pelos oposicionistas de que o anúncio de troca da diretoria da Petrobras deveria ter sido feito muito tempo atrás, mas declarações de líderes do PSDB e do DEM terminaram encontrando respaldo entre os colegas do PT.

Segundo o novo líder petista, a decisão ocorreu no momento correto, uma vez que nos últimos meses houve muita coisa para ser resolvida ao mesmo tempo, como a montagem deste segundo governo e a realização de investigações internas na companhia.

Rui Falcão, por sua vez, destacou que a presidente da estatal deixa o cargo sem ter cometido qualquer desvio de ética nem tem denúncias contra sua pessoa. O argumento do presidente nacional da legenda é de que a decisão anunciada ontem, que culminou com a renúncia de hoje, teve “caráter administrativo”. Ele disse, ainda, que a mudança dos principais nomes da diretoria é bastante positiva e vai fortalecer a Petrobras, “uma vez que existia muito desgaste em torno da empresa”.

‘Perda de governabilidade’

O deputado Paulo Teixeira (PT-SP), no entanto, ressaltou que a Petrobras terminou perdendo governabilidade com os desgastes dos últimos tempos e uma empresa do seu porte precisa “de outro tipo de governança, para liderar o mercado”. De acordo com Teixeira, a Petrobras “precisava mesmo de uma mudança para sair das páginas políticas dos jornais e voltar para as páginas de economia”. O depoimento foi considerado para alguns petistas, “sincero, mas desastroso” diante do momento delicado, conforme confidenciou um senador.

Carlos Zarattini (PT-SP) aumentou o coro, ao afirmar que apesar do trabalho executado por Graça Foster ser tido como importante, não havia mais como ela ser mantida no cargo. E completou: “Era uma situação insustentável, em minha opinião ela sai um pouco tarde”. No mesmo estilo, Paulo Pimenta (PT-RS) enfatizou que a medida (do Planalto de mudar a diretoria) foi “sensata e necessária, mas deveria ter sido tomada há muito tempo”.

Com essas declarações, os petistas terminaram repetindo os discursos dos líderes oposicionistas do PSDB e do DEM. “Se o PT quiser demonstrar unidade e começar a trabalhar pesado para garantir um espaço mínimo na Câmara depois da derrota de domingo (quando o candidato do partido perdeu a eleição à presidência para Eduardo Cunha, do PMDB-RJ), está começando muito mal. É preciso mais senso crítico”, afirmou com ar preocupado um ex-líder da legenda.

‘Cumpriu missão’

Para Carlos Sampaio (SP), líder do PSDB, e Mendonça Filho (PE), líder do DEM, a repercussão não soou muito diferente. Sampaio destacou que os tucanos pediam a saída da presidente da Petrobras desde setembro passado. Ironizou que a saída foi porque a engenheira já tinha cumprido “a missão de limpar a barra do governo nos casos de corrupção da Petrobras”.

Mendonça Filho, embora de forma mais polida, lembrou, por meio de nota, os depoimentos dados por Graça nas vezes em que esteve no Congresso. E salientou que o fato dela ter negado que houvesse irregularidade na companhia e depois o Ministério Público ter formalizado denúncias de envolvimento de três diretores pesaram na dúvida sobre ela ter conivência ou não com o que acontecia na empresa.

“Vamos acertar as coisas agora, não tenham dúvidas disso”, frisou Zarattini, ao afirmar que a intenção do Executivo é reequilibrar a situação da empresa com a nova diretoria a ser indicada. Esse era o principal discurso que os petistas queriam passar.