Graça Foster

Petrobras: para FUP, pessoas são menos importantes do que as políticas

Para dirigente da Frente Única dos Petroleiros, companhia sofre 'cerco pesado dos que querem fazer voltar o modelo de concessão que fragiliza a economia nacional e a soberania energética do país'

Fernando Frazão/Agência Brasil

Saída de Graça Foster da companhia foi definida em reunião com a presidenta Dilma Rousseff

São Paulo – O nome de quem comanda a Petrobras é menos importante do que as políticas de Estado e de governo, e a crise permanente associada à Operação Lava Jato encobre dados e políticas muito mais relevantes do que a corrupção que as manchetes da “grande imprensa” se esforçam por renovar cotidianamente. A opinião é do diretor de Relações Internacionais da Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Antônio de Moraes. Graça Foster já teria acertado com a presidenta Dilma Rousseff a saída da presidência da empresa.

A presidenta Dilma Rousseff se reuniu com Graça Foster, hoje (3), durante parte da tarde, no Palácio do Planalto, em Brasília. Graça deixou o local por volta das 17h20 sem falar sobre a reunião e retornou ao Rio de Janeiro. A assessoria de imprensa do Planalto informou que não se pronunciaria sobre o encontro.

“Achamos que as pessoas são menos importantes do que políticas. O que nós estamos vivendo, nos últimos meses, é um cerco pesado à empresa, por parte de muitos setores”, diz Moraes. “Eu destacaria os grandes meios de comunicação, que dão mais destaque à Operação Lava Jato do que ao fato de a Petrobras, em 2014, ter se tornado a maior produtora de petróleo com capital aberto do mundo, superando a ExxonMobil.”

No terceiro trimestre do ano passado, a companhia brasileira se tornou a maior produtora de petróleo do planeta, superando a norte-americana ExxonMobil, que produziu 2,065 milhões de barris de petróleo por dia, contra 2,209 milhões da brasileira.

Moraes enumera algumas informações das quais pouco ou quase nada se fala, como a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que só é citada no noticiário para ilustrar denúncias e suspeitas. “Fazia 36 anos que não se inaugurava uma refinaria no Brasil. Abreu e Lima é uma grande notícia para o país, principalmente para o Nordeste. Disso tudo ninguém fala. Só se fala de Abreu e Lima para acusar. E do pré-sal, que é um sucesso sem precedentes na indústria petrolífera do mundo, também ninguém fala.”

A Petrobras receberá pela terceira vez, em maio de 2015, em Houston (EUA), o prêmio OTC Distinguished AchievementAward for Companies, Organizations, and Institutions. O prêmio é um reconhecimento ao conjunto de tecnologias desenvolvidas para a produção da camada pré-sal.

O diretor da FUP lembra ainda que a Petrobras tem um corpo de 85 mil trabalhadores diretos e 300 mil indiretos.

Moraes afirma que a FUP não é contra apurações de denúncias. “Mas a Petrobras é muito maior do que isso. Tudo isso tem contribuído para prejudicar a empresa e sua imagem, prejudicá-la no mercado de capitais, e até mesmo na captação de recursos”, acredita o dirigente da FUP.

Para ele, o ataque sistemático à Petrobras é feito pelos “que querem fazer voltar o modelo de concessão que fragiliza a economia nacional, a soberania energética do país, transferindo o recurso natural para outras nações”. A Lei n° 12.351/2010 introduziu o regime de partilha. Resumidamente, por esse modelo a produção de um determinado campo de exploração é compartilhado pelo consórcio vencedor do certame e pela União. O leilão é vencido por quem oferecer ao governo a parcela maior.

Para o dirigente, “o pilar dessa disputa (contra a companhia petrolífera do Brasil) é formado pelo pré-sal e pelo modelo de partilha adotado no país a partir da lei 2010”.

Lideranças identificadas com o PSDB ou do próprio partido defendem a extinção do modelo de partilha. No final do ano passado, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo mencionou o tema, em entrevista à TVT, afirmando que a mudança do regime para o de concessão, na realidade, esconde interesses maiores. “Está lá no Congresso o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) clamando pela mudança do modelo de partilha para o modelo de concessão. Concessão é adequado para quando você vai descobrir as reservas de petróleo. Você não pode aplicar isso a reservas já descobertas, seria uma impropriedade. Isso envolve uma questão geopolítica, de interesse, no fundo, de se privatizar ao máximo a exploração do petróleo e tirar do controle da Petrobras”, disse Belluzzo.

Durante a campanha presidencial, o candidato tucano Aécio Neves defendeu a volta ao regime de concessão anterior a 2010.

Enquanto isso, para embasar suas informações, a imprensa foca permanentemente as denúncias de corrupção e oscilações da companhia na Bolsa de Valores. Se as ações caem, como na semana passada, o fato é atribuído a denúncias e problemas; se sobem, como entre ontem e hoje (3), a informação é também associada a problemas ou fatos a eles relacionados, como a queda da presidente Graça Foster.

Na quinta e sexta-feira as ações da Petrobras caíram mais de 9,5%. Já esta semana o movimento foi inverso e, só nesta terça-feira, a estatal brasileira teve um crescimento enorme de 15%.

“As ações caírem muito é normal. Oscilações nas bolsas são especulações. Depois eles fazem uma ‘realização de lucros’, como falam. É muito comum isso”, lembra Moraes.

Ao comentar o sobe e desce das ações à RBA, incluindo as da Petrobras, durante o período eleitoral, no ano passado, o professor Giorgio Romano Schutte, da Universidade Federal do ABC, explicou: “Esses são lucros especulativos. O investidor compra na baixa, começa a puxar o preço para cima, cria um clima de alta, muitos vão atrás dele, e aí ele vende na alta. Chega um momento em que esse ‘primeiro especulador’ sai fora e começa a vender, e faz lucro. Quem comprou primeiro vai vender e lucrar.”

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