Apuração

Pesquisa da Fundação Perseu Abramo aponta perfil dos manifestantes de março

Negros eram maioria no dia 13. No domingo, 65% eram brancos

danilo ramos/rba

No dia 13, os manifestantes eram ligados aos movimentos sociais e sindical

São Paulo – A Fundação Perseu Abramo (FPA) divulgou no sábado (21) pesquisa sobre os manifestantes que foram às ruas este mês, nos dias 13 e 15. Intitulada “Manifestações de Março/2015”, a averiguação perfilou os integrantes, apontando o posicionamento político e percepções perante o atual governo. Com base no levantamento, 76% dos cidadãos que foram às ruas na sexta-feira (13) acreditam que a situação do país melhorou nos últimos dez anos. No entanto, na manifestação do domingo (15), a parcela que teve essa mesma percepção era de apenas 14%. No primeiro ato, 14% consideram que a situação do país está pior; o número passa para 77% no segundo.

Em entrevista à Rádio Brasil Atual, o economista e presidente da fundação, Marcio Pochmann, explicou o porquê da apuração e sobre como foi realizada. “Essa pesquisa oferece elementos para se conhecer um pouco melhor não apenas o perfil dos participantes, mas as razões desses protestos. E essa investigação é resultado do trabalho que estamos fazendo ao longo do tempo, acompanhando o movimento social, sendo aquele que tem mais interesse na transformação ou conservação do nosso país.”

Foram apurados os motivos e as expectativas que induziram as pessoas a irem às ruas. Segundo a pesquisa, em primeiro lugar, as percepções das mudanças que ocorrem no Brasil fizeram parte da decisão de a população sair de suas casas.

Os manifestantes do dia 13 têm identidade com instituições de representação de interesse público, como sindicatos e movimentos sociais. Os do dia 15 têm identidade com partidos ou organização civil. Pessoas estavam presentes para o combate à corrupção e com um apelo que pedia o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

“Outro aspecto importante, em relação ao perfil dos manifestantes, é que nós temos um Brasil muito mais identificado com o perfil racial, porque a maior parte dos que foram na sexta-feira não era branca. Já no domingo, o protesto foi composto de pessoas de pele branca, já que mais de dois terços se declararam nessa situação. Também era um segmento com maior nível de renda, ao contrário dos que participaram no dia 13”, explica Pochmann.

gerardo lazzari
Parte dos manifestantes do dia 15 pedia a volta da ditadura: "Saudades da Ditadura", diz a placa

No protesto do domingo, foram ecoados pedidos de intervenção militar. Segundo os dados, 12% acreditam que a ditadura é melhor do que o regime democrático. “Na sexta-feirahouve um movimento muito coeso, orgânico e estruturado em torno de instituições de interesse popular, como sindicatos, associações de bairro. No ato de domingo, não era um segmento organizado, então havia grupos heterogêneos, e identificados com a defesa do autoritarismo, com uma ideologia de direita. É importante ressaltar que a direita sempre disputou as ruas no Brasil. Se nós voltarmos aos anos 1940 e 1950, inclusive em 64, vemos que ocorreu um apelo popular defendendo o golpe”, observa Pochmann.

“As manifestações que ocorreram em 2013 apontaram uma nova alteração na política brasileira. Infelizmente, essas mudanças não ocorreram, e isso nos faz refletir até que ponto o que estamos percebendo hoje não tem alguma conexão com o que ocorreu há dois anos”, diz.

A margem de erro para a amostra do dia 13 é de cinco pontos percentuais, e para o dia 15, é de quatro pontos percentuais, com intervalo de confiança de 95%.

Conheça o resultado completo da pesquisa

Ouça a entrevista à Rádio Brasil Atual: