Partidos e sindicatos demoram a perceber protagonismo das mulheres, diz ativista

Para diretora do Instituto Patrícia Galvão, sociedade reconhece que mulheres devem ter mais espaço em instâncias de poder político, e há falta de sensibilidade de instituições de 'lógica masculina'

Abertura da 2ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)

Partidos e sindicatos se mostram muito distantes da sociedade ao não reconhecer o protagonismo das mulheres na economia, na cultura e em outras áreas. A avaliação é de Jacira Melo, diretora do Instituto Patrícia Galvão. Para ela, instituições de lógica masculina não percebem, como o conjunto da sociedade, o avanço das mulheres sobre diversos setores.

Pesquisa realizada pelo Ibope Inteligência em fevereiro deste ano revela que 94% dos entrevistados votariam em mulheres para cargos eletivos. O índice recua para 59% quando a pergunta se refere ao voto para “qualquer cargo”. O levantamento contou com 2.002 entrevistas e foi realizado em parceria com o Instituto e o apoio da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) da Presidência da República.

Jacira Melo considera os índices expressivos, porque deixam claro que o argumento de que as mulheres são sub-representadas por preconceito não se sustenta. “A pesquisa responde a algumas inquietações sobre as mulheres pré-candidatas, porque demonstra que a sociedade quer mais mulheres no poder e tem claro o déficit de mulheres nos espaços estratégicos de discussão, especialmente no Congresso”, avalia.

O levantamento foi divulgada em março mas, em função da pré-candidatura da ministra Dilma Rousseff, a resposta da mídia foi querer saber “a origem da pesquisa, quem pagou”, conta Jacira.

Candidatas e temas das mulheres

Jacira considera uma conquista o fato de três das cinco principais candidaturas à Presidência apresentadas em pesquisas eleitorais serem mulheres. Ao mesmo tempo, em vista da sub-representação, é uma “coincidência feliz” porque coloca a reflexão sobre isso.

A ativista sustenta que as três candidatas têm uma grande sensibilidade ao debate sobre os direitos das mulheres. “Elas sabem do protagonismo das mulheres e como isto está sub-representado (na política)”, afirma. Isso quer dizer que os temas ligados aos direitos das mulheres devem ganhar espaço.

Assuntos como o direito ao aborto, por exemplo, podem avançar para além da discussão rasa a que fica restrita normalmente. “Quando debate ocorre, é feito de forma rústica, (discute) se os candidatos são favoráveis ou contrários ao direito ao aborto em sua individualidade, mas a questão é a posição deles enquanto chefe-de-Estado”, avalia.

Como participante do movimento de mulheres, Jacira esclarece que a posição defendida por elas é a de que o tema é uma questão de saúde pública que precisa ser tratada como tal pelo Estado. “O país tem 1 milhão de abortos por ano, e as mulheres mais penalizadas por abortos mal-feitos são pobres, negras, ribeirinhas. A prática é liberada e acessível há muito tempo a quem tem acesso a recursos econômicos, por isso é uma dívida histórica com as mulheres de baixa renda.”

Ela lembra ainda que Dilma Rousseff ocupa atualmente um dos cargos mais importantes da hierarquia do Executivo e, como tal, é vista como competente. Isso é importante especialmente porque ela veio de um espaço “não reservado” às mulheres, que é a área de Minas e Energia. “Ela fez um percurso reservado aos homens”, avalia.

No caso da senadora Marina Silva, a importância de seu nome surgir no cenário nacional está relacionada a trazer para a agenda econômica de 2010 a temática ambiental, para a qual os parlamentares e o Estado estão de costas. “Fiquei muito feliz que a candidatura de Marina apareça para trazer o debate sobre a ética e as relações com a sociedade”, comemora.

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