Para Nassif, blogs acabam com a mediação da informação

Jornalista aposta na multiplicidade de produtores para o controle da mídia. Em debate na Câmara de Vereadores de São Paulo, ativistas, políticos e jornalistas debateram o tema da comunicação

Para o jornalista Luís Nassif, o universo das comunicações passa por um momento de transição em que os blogs são ator relevante da mudança. As declarações foram feitas no debate “Controle público fere a liberdade de imprensa?”, realizado na tarde desta segunda-feira (31), na Câmara Municipal de São Paulo, por iniciativa do vereador Francisco Chagas (PT-SP).

A discussão faz parte dos preparativos para a 1ª Conferência Nacional de Comunicação, que ocorre em dezembro. Os principais jornais do país, como Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo foram duramente criticados por parte dos expositores.

“Os blogs vão derrubar as TVs, com exceção da Globo”, profetizou Nassif. “Acabou a mediação da notícia pelos jornais, acabou o release, porque há uma multiplicidade de produtores”, defendeu. Na opinião dele, com muitos produtores de informação, a mediação se torna desnecessária.

Um lado negativo desse fenômeno é o espaço aberto à radicalização desses rpodutores, tanto de direita como de esquerda. Ainda assim, a modernização do país virá, na visão de Nassif, pelas vias das novas mídias. “A gente vai descobrir que um país se faz com arranjos, com Bolsa Família, com mercado financeiro, com governos”, defendeu.

Paulo Salvador, diretor da Rede Brasil Atual, criticou a maneira como a mídia faz a cobertura do movimento sindical. “O movimento sindical articula milhões de trabalhadores que são os empregados que formam a População Economicamente Ativa (PEA), aqueles que geram o desenvolvimento”, explicou. “E a mídia só pauta a derrota dos trabalhadores, distorce eventos e fatos”, lamentou.

Salvador exaltou a iniciativa da Central Única dos Trabalhadores (CUT) de ter investido na criação de uma mídia alternativa, como é a Revista do Brasil, a Rede Brasil Atual e a Rádio Brasil Atual. “É uma construção importante do movimento sindical que, antes, criticava a mídia, mas não fazia nada. Agora já existe um veículo”, comemorou.

Ele defendeu ainda que a Empresa Brasileira de Correios assumisse a fundção de distribuição de veículos de comunicação, especialmente as alternativas. Atualmente, as duas principais empresas do setor (Dinap e Fernando Chinaglia) estão em processo de fusão analisado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Autorregulação

O ombudsman do jornal Folha de S.Paulo, Carlos Eduardo Lins e Silva, criticou a cobertura feita pelos jornais que centram em escândalos e na fofoca. Ele considera que é necessário haver controle, mas como  autorregulação. “A imprensa escolhe o pior viés na cobertura do poder Legislativo, por exemplo, descatando apenas a corrupção e a banda pobre.”

“Há muita coisa importante que não são divulgadas”, apontou. Segundo Lins e Silva, o público é sempre surpreendido depois que as decisões foram tomadas, sem que o processo tenha sido divulgado. “É como se o jornal desse o resultado de um jogo sem ter noticiado os treinos e a escalação dos times. Os jornais não fazem isso com as boas medidas do Legislativo,como a lei de adoção, por exemplo”.

Ao leitor cabe apenas ler sobre a aprovação de determinadas matérias sem conhecer as tramitações. “A sociedade não é informada de nada que o Legislativo faz”, disse o ombudsman da Folha.

Um exemplo disso foi a cobertura da eleição dos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, José Sarney (PMDB-AP) e Michel Temer (PMDB-SP). Na ocasião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou mensagem com objetivos dele para o ano, mas o texto foi ignorada pela mídia.

“Nos Estados Unidos, quando presidente faz o anúncio de suas prioridades, é o dia mais importante da política, porque é a partir dessa carta que sociedade cobra o Executivo”, comparou. A internet poderia ser mais bem utilizada na opinião de Lins e Silva, se fosse criado algo como uma comunidade virtual ou um Facebook dos políticos que permitisse a discussão e a interação com a sociedade.

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