Para Berzoini, oposição só queria criar crise no Senado

Em entrevista à Rede Brasil Atual, deputado afirma que PT agiu dentro de sua ética e que eleitores entendem o projeto estratégico do governo Lula

O presidente do PT, Ricardo Berzoini, considera que todo governo comprometido com interesses do povo sofre ataques (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

Para o presidente nacional do PT, deputado federal Ricardo Berzoini (SP), os três senadores da legenda no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar votaram “no âmbito de nossa visão sobre a ética na política”. Em entrevista exclusiva à Rede Brasil Atual, Berzoini reconhece que o interesse na aliança com o PMDB para 2010 teve papel importante no posicionamento dos parlamentares na semana passada, mas nega que o partido tenha agido apenas pela conveniência eleitoral.

“Toda vez que se tem um governo comprometido com os interesses do povo, ou um projeto comprometido com os interesses estratégicos do país, algumas forças se levantam para tentar trazer o tema da suposta crise moral, crise ética como elemento central da conjuntura”, analisa. “O elemento central da conjuntura para mim é crescimento econômico, o Bolsa Família, o Luz para Todos e a grande obra do governo Lula”, emenda.

Berzoini sustenta que a oposição tentava apenas criar crise política no Senado por não ter “condições de criar crise em assuntos concretos”. E defende que uma investigação consistente só poderia ser feita pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, e não em uma instância que classifica como “política”. “No Conselho de Ética, o que havia eram senadores da oposição doidos para criar crise e senadores da base, alguns convictos de que não deveriam alimentar a crise, outros em dúvida”, avalia.

Segundo o presidente do PT, o partido “não pode ter comportamento de oposição”, porque “quem é governo tem de investir para o governo votar os projetos na pauta” e combater a crise política.

Ele comparou o momento atual a outras crises políticas, incluindo a de 2005, no chamado mensalão. “(Em 2005) houve aqueles que preferiram chorar em plenário, aqueles que resolveram sair do PT e os que resolveram ficar e enfrentar. Demonstramos que estava certo o enfrentamento”, dispara.

Confira a íntegra da entrevista:

RBA – Como o senhor avalia o episódio no Senado envolvendo a posição dos senadores Aloizio Mercadante, de ameaçar se retirar da liderança do partido, e de Flávio Arns, de sair da legenda?

Não quero fazer avaliação de posicionamentos individuais. O que posso dizer com tranquilidade é que o PT lidera, na figura do presidente Lula e dos seus líderes na Câmara e no Senado, um processo de mudança extraordinária no Brasil. Redução da desigualdade social, mudança do papel do Estado, programas de grande impacto socioeconômico, como Bolsa Família, Luz para Todos, nova rede de escolas técnicas federais, expansão das universidades, o PAC, o Minha Casa Minha Vida.

A oposição, por falta de discurso, precisa criar crise. É da natureza da oposição criar crise. Como não tinha condições de criar crise em assuntos concretos, reais, partiram para a crise política no Senado. Precisamos ter clareza de que situação é situação, e oposição é oposição. O PT não pode ter comportamento de oposição. Quando fizemos o movimento na semana passada de orientar nossos três bravos senadores no Conselho de Ética (e Decoro Parlamentar) foi no sentido de dizer que, do ponto de vista partidário, não há razão para o PT fazer o jogo da oposição.

O PT deveria tratar a questão no âmbito de nossa visão sobre a ética na política. Se alguém quer investigar com profundidade, se quer uma apuração consistente, tem Ministério Público, Polícia Federal e todo o Poder Judiciário para isso. Quem quer discutir no Conselho de Ética, que é um foro político, dos partidos e seus projetos, quer na verdade criar crise política para atrapalhar governo que está dando certo.

RBA – Do ponto de vista dos eleitores e da militância do PT, o cenário pode gerar algum tipo de celeuma nas eleições de 2010?

Olha, em 2005, passamos pelo mesmo tipo de dilema. Houve aqueles que preferiram chorar em plenário, aqueles que resolveram sair do PT e os que resolveram ficar e enfrentar. Demonstramos que estava certo o enfrentamento, que na política você tem de enfrentar as contradições. E tentar fazer a síntese política de cada processo de enfrentamento. Obviamente, pode ter eleitor que fique decepcionado ou em dúvida, mas se você for discutir com firmeza o papel do governo Lula na história do Brasil, vai verificar que os eleitores entendem. Assim como se recuperar a história e lembrar que Getúlio Vargas foi vítima de um cerco da grande mídia parecido com este, quando houve o episódio chamado pela oposição, que era o Lacerda, de “mar de lama”. Que Juscelino Kubitschek era denunciado como o sétimo homem mais rico do mundo e morreu pagando passagem a prestação. Se verificar o golpismo de 1964, quando João Goulart optou por não enfrentar e se exilou no Uruguai. Ou a tentativa de roubar a eleição do Brizola em 1982 no Rio de Janeiro. Ou a tentativa de derrotar o PT várias vezes em eleições seguintes e a tentativa de criar a crise política em 2005, vai ver que o processo é o mesmo. Toda vez que se tem um governo comprometido com os interesses do povo, ou um projeto comprometido com os interesses estratégicos do país, algumas forças se levantam para tentar trazer o tema da suposta crise moral, crise ética como elemento central da conjuntura. O elemento central da conjuntura para mim é crescimento econômico, Bolsa Família, Luz para Todos e a grande obra do governo Lula.

RBA – A avaliação de analistas do episódio aponta o interesse do PT em contar com o PMDB para a aliança ano que vem. Em que medida esse fator foi decisivo para o posicionamento do partido?

Claro, foi um fator importante. O PMDB é um grande partido. Queremos alianças com o PMDB, com PSB, PDT, PC do B, PP, PR, PTB e outros partidos. Agora, não agimos somente pela conveniência da aliança, mas também pela convicção de que esse tipo de crise dentro do parlamento só faz bem à oposição, não para quem é governo. Quem é governo tem de investir para o governo votar os projetos na pauta. E deixe a investigação para quem sabe investigar. O Ministério Público e a Polícia Federal sabem investigar e o Poder Judiciário sabe julgar. Esses têm a função institucional de fazer a apuração. No Conselho de Ética, o que havia eram senadores da oposição doidos para criar crise e senadores da base, alguns convictos de que não deveriam alimentar a crise, outros em dúvida. Isso é o que reflete o quadro de luta política que ocorreu no Senado Federal na semana passada.