Articulação bolsonarista

Nunes realiza ato com delegada e indica rejeição a vice preferido de Bolsonaro

Indicado de Bolsonaro para vice de Nunes perde força diante da indicação de delegada, preferida de alas mais tradicionais do PL

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A delegada, que foi presidenta do PL Mulher, possui apoio de parte do partido para compor chapa com Nunes como sua vice

São Paulo – Ao realizar nesta quinta-feira (22) um ato de pré-campanha na Lapa, zona oeste, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), convidou a delegada Raquel Gallinati para participar do compromisso. Ex-presidenta do PL Mulher, Raquel possui apoio de parte do partido para compor chapa com Nunes como sua vice. A aproximação marca mais uma etapa do desgaste entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e a ala mais tradicional de seu partido.

Isso porque Bolsonaro indicou o coronel da reserva da Polícia Militar Ricardo Nascimento Mello Araújo para ser vice de Nunes. Enquanto Raquel possui larga carreira no Direito – em particular no processo penal – e já ocupou cargos como diretora do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp), Araújo é mais do tipo bolsonarista radical, ou “raiz”. Entretanto, existe o entendimento de que o radicalismo do ex-presidente enfrenta resistência em São Paulo. O extremista, por exemplo, perdeu na capital paulista para Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022.

Sobre o perfil de Araújo, o indicado por Bolsonaro não tem histórico na política institucional. Contudo, coleciona polêmicas em suas gestões como comandante da Rota, a tropa de elite da PM. Assim como na presidência da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais (Ceagesp).

É fato que o PL tenta utilizar Bolsonaro como principal cabo eleitoral. Contudo, os escândalos que envolvem o ex-presidente – com casos que vão de corrupção a até tentativa de golpe de Estado – dificultaram o processo. Entre as medidas cautelares judiciais que pesam sobre Bolsonaro está a proibição de se comunicar com Valdemar da Costa Neto, presidente do PL. Para piorar a situação da extrema direita, o líder do partido passou dois dias preso em fevereiro. Contudo, em liberdade provisória, Costa Neto também acumula medidas cautelares rígidas, que o afastam da articulação política.

O candidato de Bolsonaro

Em 2017, numa entrevista ao portal UOL, Mello Araújo, que acabava de assumir o comando da Rota, defendeu que a polícia tinha que abordar e falar de forma diferente da que atua em regiões ricas com moradores da periferia de São Paulo. “Se ele (policial) for abordar uma pessoa (na periferia), da mesma forma que ele for abordar uma pessoa aqui nos Jardins (região rica da capital paulista), ele vai ter dificuldade”, declarou o comandante.

Mello Araújo ainda acrescentou “argumentos”, para tentar justificar o tratamento desigual e irregular. “Da mesma forma, se eu coloco um (PM) da periferia para lidar, falar com a mesma forma, com a mesma linguagem que uma pessoa da periferia fala aqui no Jardins, ele pode estar sendo grosseiro com uma pessoa do Jardins que está ali, andando. O policial tem que se adaptar àquele meio que ele está naquele momento.”

Investigado por assédio trabalhista

Dois anos depois, o então comandante encerrou sua carreira na ativa da PM e foi para a reserva. Até que, em outubro de 2020, ele foi nomeado por Bolsonaro para ser diretor-presidente da Ceagesp. Menos de um ano depois, três servidores o denunciaram por praticar coação, humilhação e violência. Ainda em 2021, a procuradora do Trabalho Ana Gabriela Oliveira de Paula determinou abertura de inquérito para investigar o caso.

Dossiê organizado pelo Sindicato dos Empregados em Centrais de Abastecimento de Alimentos do Estado de São Paulo (Sindbast), com depoimento de trabalhadores, mostram detalhes de um enredo classificado como “filme de terror” por um dos servidores. Homens armados e identificados com insígnias policiais teriam torturado psicologicamente os trabalhadores para que admitissem culpa em um suposto esquema de roubo de energia elétrica da Ceagesp. Em seguida, a ordem era para que pedissem exoneração.

Outra acusação contra o presidente da Ceagesp foi registrada por câmeras de segurança no dia 9 de dezembro de 2020 no Sindicato dos Carregadores Autônomos em Centrais de Abastecimento no Estado de São Paulo (Sindicar). De acordo com o vice-presidente do sindicato na época, Mário Souza, em entrevista ao site da revista CartaCapital, Mello Araújo foi armado e acompanhado ao Sindicar, onde ameaçou carregadores e o seu pai, José Pinheiro, que presidia a entidade.

Golpismo

Ainda no comando da Ceagesp, o bolsonarista publicou um vídeo nas redes sociais convocando policiais militares “veteranos” para os protestos do dia 7 de setembro do mesmo ano. O ato vinha sendo organizado por militantes e parlamentares de direita sob um viés antidemocrático. E pedia ainda a destituição de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a adoção do voto impresso e intervenção das Forças Armadas.

Fora da presidência, Mello Araújo vem sendo considerado a “bola da vez” para assumir o posto de vice do atual prefeito de São Paulo. Uma fonte próxima ao ex-presidente disse ao UOL que Bolsonaro tem “grande apreço” pelo militar. O nome do indicado a vice de Nunes também conta com o apoio do presidente do PL, Valdemar Costa Neto. A escolha, contudo, ainda não está confirmada. Há outros nomes na disputa pela vaga de vice de Nunes, como o delegado Osvaldo Nico, o deputado estadual Tomé Abduch (Republicanos) e a delegada Raquel Gallinati (PL).

Também pesa contra o ex-Rota a ausência de histórico na política e o desconhecimento do nome dele pela população. O que também atinge Nunes, conforme reportagem do site. Para sua reeleição, o prefeito terá que enfrentar como principal adversário o deputado federal Guilherme Boulos (Psol), que terá como vice a ex-prefeita Marta Suplicy (PT), cujo nome é popular, principalmente na periferia da cidade.

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