Negromonte acusa ‘imprensa do sul’ de ‘preconceito contra nordestino’

Novo alvo de acusações, ministro das Cidades chorou em evento em Salvador ao receber apoio de aliados e diz que alvo é enfraquecer governo Dilma

De acordo com o ministro, as denúncias surgem porque o ministério é importante (Foto: Antonio Cruz/Arquivo Agência Brasil)

São Paulo – O ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP), criticou nesta sexta-feira (25), em Salvador, a “imprensa do sul” por ter “preconceito contra nordestino” e contra as mulheres. Durante o lançamento da segunda etapa do programa Minha Casa, Minha Vida na Bahia, seu berço político, Negromonte emocionou-se ao receber o apoio de lideranças do estado.

“As denúncias vêm de parte da imprensa, insatisfeita com o governo federal, interessada em enfraquecer a presidente Dilma (Rousseff)”, disse o ministro, segundo a Agência Estado. “É uma mulher e existe discriminação. Existe discriminação com o nordestino também”, completou.

Ele lembrou da “ilação” relacionada à Festa do Bode, cujo financiamento teria tido ajuda de Negromonte, segundo reportagens publicadas pelo jornal O Estado de S.Paulo. “Se fosse a Festa da Uva ou da Maçã, certamente ninguém faria discriminação. Mas como é Festa do Bode, coisa de nordestino, e o ministro é nordestino, tome cacetada.”

O presidente da Assembleia baiana, Marcelo Nilo (PDT), e o presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB), Luiz Caetano (PT), manifestaram solidariedade ao ministro. Ele afirma ser vítima de gente do próprio governo federal e de seu partido. “Identifico fogo amigo, claro que sim! Partidos da base aliada e o próprio PP nacional – não da Bahia – têm interesse no ministério”, admitiu.

“As denúncias surgem porque o ministério é importante”, afirmou. “E a gente contraria muitos interesses. Aqui e acolá tem meia dúzia de insatisfeitos na bancada, é normal.”

Novo alvo de denúncias publicadas pela mídia, Negromonte afirmou que instaurou sindicância para apurar eventuais irregularidades, além de avisar órgãos competentes por investigações, como a Controladoria Geral da União (CGU) e o Ministério Público Federal. A partir do resultado da análise interna é que assessores e funcionários da pasta poderiam ser exonerados.

Negromonte foi apontado como o “oitavo ministro” do governo Dilma a ser levado à berlinda, na avaliação do jornalista Leandro Fortes, na edição da semana passada na revista CartaCapital. O aumento das consultas por parte de repórteres de diferentes veículos à assessoria de imprensa do ministério sugeriam a mudança de alvo.

Gravações de conversas de funcionários do Ministério das Cidades divulgadas pelo jornal sugerem que houve alteração de parecer técnico de projeto de obra para a Copa do Mundo de 2014 em Cuiabá. A alteração previa troca de um projeto de linha rápida de ônibus por veículo leve sobre trilhos. Os indícios de fraude envolvem a elevação em R$ 700 milhões do custo da invervenção, que alcançaria R$ 1,2 bilhão.

Negromonte havia sido acusado de fraude na Festa do Bode, em Paulo Afonso (BA), a 480 quilômetros a norte da capital. Com resistências dentro do próprio PP desde a nomeação, o ministro é considerado uma das presenças quase certas na reforma ministerial pretendida pela presidenta Dilma para o início de 2012. Como há membros do governo que vão concorrer a prefeituras nas eleições do ano que vem, figuras menos prestigiadas ou problemáticas também poderiam deixar os postos.

As denúncias podem mudar esse roteiro. Antes dele, Carlos Lupi, do Trabalho e Emprego, vinha na mira preferencial, diante da divulgação de irregularidades na pasta. Apesar da pressão, ele permanece no cargo e com apoio de seus partidários. Lupi entrou como sétimo da lista de ministros na corda bamba, mas não caiu até agora, passados 20 dias da publicação das primeiras acusações relativas a convênios.

A lista começou com Antonio Palocci (Casa Civil, em junho), Alfredo Nascimento (Transportes, em julho), Wagner Rossi (Agricultura, em agosto), Pedro Novais (Turismo, em setembro) e Orlando Dias (Esporte, em outubro) caíram nesse contexto. Nelson Jobim (Defesa), que caiu em agosto, foi o único a deixar o posto por desgaste político. Uma reforma ministerial é esperada para o início de 2012, em função das eleições municipais e de eventuais insatisfações de Dilma com a condução do governo.

 

Leia também

Últimas notícias